O desmatamento no
Brasil remonta séculos de exploração da madeira e descobertura da terra para o
cultivo e criação. Em pouco mais de 500
anos reduzimos o verde, a biodiversidade e os povos tradicionais indígenas. E mesmo
depois de tanto tempo ainda nos comportamos como o velho Brasil Colônia,
comercializando e exportando bens naturais e produtos primários, sem avaliar as
consequências e/ou impactos de longo prazo, seja para o ambiente, para as
pessoas ou para a economia. E este é o ponto.
A destruição da
natureza pode ser um péssimo negócio e preocupados com o andar da carruagem do
governo Bolsonaro, também com o futuro de seus negócios, grandes empresários
brasileiros, que atuam na Amazônia, cobraram uma ação mais enérgica do governo
federal na redução do desmatamento. Os empresários foram recebidos na semana
passada pelo vice-presidente Hamilton Mourão, que também é presidente do
Conselho da Amazônia. Manifestaram que estão preocupados com o avanço do
desmatamento e descontentes com a política ambiental do governo brasileiro, na
esteira das mesmas manifestações que investidores estrangeiros vêm fazendo.
Aliás, manifestações em tom de ameaça, de retirada do investimento
internacional, caso não sejam definidas novas medidas de combate ao
desmatamento na Amazônia.
De acordo com a
agenda oficial, publicada pelo site da Agência Brasil, Mourão esteve com Marina
Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento
Sustentável (CEBDS), colegiado que reúne 60 dos maiores grupos empresariais do
país, com faturamento equivalente a cerca de 45% do Produto Interno Bruto (PIB,
soma de bens e serviços produzidos no Brasil) e responsáveis por mais de 1
milhão de empregos diretos. Também participaram da reunião Marcello Brito,
presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) e Paulo Hartung,
presidente da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ). “Todos eles colocam a
questão de que a gente tem que ter uma meta, reduzir o desmatamento ao mínimo
aceitável, e as pessoas entenderem que não podem desmatar", afirmou
Mourão, após reunião.
Diante da tormenta
ambiental que parece estar se formando em torno do governo e da mais completa
inépcia e falta de empatia do Ministro Ricardo Salles pelo tema da sua pasta,
reações contraditórias acabam levantando mais dúvidas. Nesta segunda-feira
(13), no mesmo dia que o Ministro Paulo Guedes afirma, em evento da OCDE, que o
país pode melhorar a política ambiental: “Se há erros, corrigiremos,” a
pesquisadora responsável pelo monitoramento florestal no Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Lubia Vinhas, é exonerada após
apresentar dados de desmatamento da Amazônia, que contrariam o
discurso do governo, feito a empresários e fundos de investimento
internacionais que exigem medidas eficientes de preservação do meio ambiente. A
pesquisadora era a coordenadora-geral de Observação da Terra do INPE,
departamento responsável pelos sistemas Deter e Prodes, que acompanham o
desmatamento da Amazônia.
Para completar, em
carta pública divulgada nesta terça-feira (14), ex-ministros da Fazenda e
ex-presidentes do Banco Central defenderam
a retomada da economia com preservação ambiental e responsabilidade social. A
carta reúne a assinatura de personalidades como Pedro Malan, Henrique
Meirelles, Joaquim Levy, Armínio Fraga, Ilan Goldfajn e foi intitulada UMA
CONVERGÊNCIA NECESSÁRIA: POR UMA ECONOMIA DE BAIXO CARBONO. Falam em zerar o
desmatamento na Amazônia e no Cerrado, aumentar a resiliência climática e
impulsionar a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias. “Superar a
crise exige convergirmos em torno de uma agenda que nos possibilite retomar as
atividades econômicas, endereçar os problemas sociais e, simultaneamente,
construir uma economia mais resiliente ao lidar com os riscos climáticos e suas
implicações para o Brasil", escreveram no texto.
Professor Marcelo Dutra da Silva
Membro do PSB de Pelotas
Ecólogo – Doutor em Ciências
Instituto de Oceanografia - Universidade Federal do Rio Grande
Fonte: Comunicação PSB RS