O Pantanal é a maior área
úmida do mundo e está queimando. São mais de 2 milhões de hectares de pura
destruição e sofrimento da fauna silvestre, em meio a sucessivos erros do
governo federal, que continua insistindo em tapar o sol com a peneira, minimizando
as queimadas e seus efeitos. Em entrevista, o vice-presidente Gen. Hamilton
Mourão disse ser um problema de seca, que se arrasta por muito tempo na região
e que o Ministério do Meio Ambiente tem tomado todas as medidas necessárias.
Entretanto, a comunidade científica discorda e aponta para a magnitude dos
impactos, sejam de perdas da biodiversidade, sejam econômicos ou sociais de
redução da produtividade, já que o fogo também queima dispersores de semente,
polinizadores e atinge as populações do campo. Uma tragédia em várias
instâncias, onde todos perdem.
Enquanto isso, ficamos
sabendo que multas ambientais despencaram, apesar de recordes de queimadas no
Pantanal. Autuações relacionadas à queima e supressão da vegetação nativa
caíram 22% no Mato Grosso do Sul, em comparação com o mesmo período do ano
passado. Queimadas provocadas pelo homem é uma ação recorrente no Pantanal, que
já teve 15% da sua área devastada pelas chamas, segundo dados do Centro
Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo). E mesmo
assim, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) diminuiu o ritmo das
operações de fiscalização em Mato Grosso do Sul em 2020.
Em reportagem especial para
o jornal Estadão, a jornalista Lucia Morel (Campo Grande News) relatou que documentos
e celulares de fazendeiros do Mato Grosso do Sul foram apreendidos pela
Operação Matáá, da Polícia Federal, que investiga as queimadas que estão
consumindo o Pantanal. A PF suspeita de queimadas deliberadas para criação de
área de pasto onde antes era mata nativa. “As queimadas começaram em fazendas
da região, em espaços inóspitos dentro das fazendas, onde não há nada perto, o
que nos faz entender que não pode ser acidente. Teoricamente, alguém foi lá
para isso (colocar fogo)", disse ao Estadão o delegado Alan Givigi.
Na prática, a queima da mata nativa é uma tentativa de burlar a Lei. Já que não pode desmatar, por ser área protegida, coloca-se fogo e depois vira pasto. Uma técnica comum, em todos os biomas brasileiros. Infelizmente, a concepção que domina ─ de paradigma vigente do desenvolvimento ─ é que tudo se resume em cidade, asfalto e lavoura. Estão enganados! Dados consolidados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados na segunda-feira (14), mostram que os incêndios na região do Pantanal cresceram 210% em 2020, em comparação com o mesmo período do ano passado. A região registrou 14.489 focos de calor este ano, contra 4.660 em 2019. E as últimas notícias dão conta de que mandados de busca e apreensão estão sendo cumpridos e os responsáveis poderão responder pelos crimes ambientais (9.605/98) de dano à floresta de preservação permanente (Art. 38), dano direto e indireto a Unidades de Conservação (Art. 40), incêndio (Art. 41) e poluição (Art. 54). Vamos torcer para que os culpados sejam encontrados e punidos.
Professor Marcelo Dutra da Silva
Membro do PSB de Pelotas
Ecólogo – Doutor em Ciências
Instituto de Oceanografia - Universidade Federal do Rio Grande
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