Rodoviárias devem passar por adaptações no Rio Grande do Sul

14/02/2017 (Atualizado em 14/02/2017 | 17:24)

Proposta quer distribuir 1,7 mil linhas de ônibus em 14 regiões no território gaúcho

O Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) encomendou um trabalho de consultoria que poderá ser a salvação das quase 300 rodoviárias existentes no Rio Grande do Sul. A consultoria Gistran, contratada pelo departamento com o objetivo de elaborar um plano diretor de transportes, realizou o mapeamento das 1,7 mil linhas de ônibus intermunicipais em operação no Estado. O trabalho resultou na proposta de criação de uma agência rodoviária para atender municípios pequenos, onde há pouca viabilidade econômica.

O diretor de transportes rodoviários do Daer, Lauro Hagemann (PSB), explicou que a ideia foi organizar o sistema formado por 1,7 mil linhas para que elas fossem distribuídas em 14 regiões no território gaúcho. Um exemplo, é que a linha Pelotas/Porto Alegre, considerada uma das mais atrativas, vai ajudar a custear a linha de Morro Redondo avaliada como muito pouco lucrativa. “A ideia é distribuir as linhas boas, médias, intermediárias e ruins nas 14 regiões do Estado. Com essa medida, não teremos a paralisação do serviço com a alegação dos concessionários de ausência de arrecadação”, acrescentou. Segundo Hagemann, no passado as rodoviárias eram conideradas um negócio muito atrativo e os concessionários viviam basicamente da venda de passagens. “Temos que colocar na cabeça dos empresários do setor que é preciso agregar outros serviços, como lancherias e restaurantes”, explicou.

O diretor de transportes rodoviários do Daer explicou que das 300 rodoviárias do Estado, 96 já possuem contratos novos. O restante são termos de autorização concedidos pelo departamento. A proposta, segundo Hagemann, é que nos editais de licitação conste que cidades de pequeno ou médio porte tenham box e pontos de parada e que os empresários interessados em comercializar passagens se habilitem através da licitação montem uma agência, semelhante a uma lotérica, na sua cidade para a venda dos bilhetes. “Com a proposta, teremos condições de cobrir todas as regiões do território gaúcho com rodoviárias”, comentou.

Os editais de licitação das rodoviárias já estão na Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e na Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs) para avaliação dos técnicos. Também estão previstas audiências públicas ao longo de 2017 para apresentação do Plano Diretor para o Sistema de Transporte Coletivo Intermunicipal Rodoviário do Rio Grande do Sul nos municípios.

A Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs) tem um serviço de ouvidoria móvel que vai até as mais de 300 ações rodoviárias do Estado para verificar a prestação do serviço. O diretor de qualidade da Agergs, Flávio Pereira, disse que na inspeção são verificados os horários de saída dos ônibus, os canais para recebimento de reclamações dos usuários, a rotina de limpeza e higiene dos terminais rodoviários e se a cobrança do seguro no momento da compra do bilhete está bem clara para o passageiro. “Com o nosso trabalho, estamos tirando os concessionários da zona de conforto”, comentou.

Pereira explicou, a partir da fiscalização, constatou-se que boa parte das rodoviárias do Estado não possui plano de acessibilidade, ou seja, banheiros adaptados e piso tátil para pessoas com deficiência. “Os fiscais realizam relatório com as demandas e a concessionária que administra o terminal rodoviário têm 15 dias para se manifestar sobre quando serão realizados os investimentos na estrutura com relação a acessibilidade.”

Com a chegada do verão, a ouvidoria móvel da agência intensificará o trabalho de fiscalização nas rodoviárias do Litoral gaúcho. Já na Estação Rodoviária de Porto Alegre, Pereira explica que os serviços serão inspecionados no primeiro semestre de 2017. “Claro que estamos sempre atentos às reclamações dos usuários sobre o serviço”. A Agergs tem uma ouvidoria que atende pelo 0800 979 0066.

O caso de Porto Alegre

A Estação Rodoviária de Porto Alegre necessita de investimentos pesados que deveriam ser feitos pelo Daer. Porém, o Estado alega não ter recursos para isso. A avaliação é do diretor de transportes rodoviários do Daer, Lauro Hagemann, ao explicar que o prédio no largo Vespasiano Júlio Veppo, no Centro da Capital, pertencente ao Daer, precisa ser reformado e modernizado. A estação rodoviária de Porto Alegre foi inaugurada em junho de 1970, projeto elaborado pelo departamento.

De acordo com Hagemann, são quase cinco décadas em que a concessionária Veppo faz as manutenções mais simples. “Não posso obrigar que a empresa realize serviços que são responsabilidades do Daer.” O diretor de transportes rodoviários afirmou que a troca do pavimento e os investimentos no fechamento da área de embarque de passageiros terão que ser feitos na nova licitação.

A Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI), a pedido do Daer, já trabalha no modelo do edital de licitação da rodoviária da Capital. A proposta, segundo o Hagemann, é que o novo concessionário em vez de pagar R$ 15 milhões ou R$ 20 milhões de outorga para o Daer aplique os recursos na reforma da estrutura. “Queremos a modernização do terminal rodoviário, a criação de uma área para a venda de passagens no 2º andar do prédio e a liberação de um espaço maior para os táxis.”

O contrato com o novo concessionário será de 25 anos e nos três primeiros anos o departamento quer mudar a cara da Estação Rodoviária da Capital. “A ideia é que tenhamos banheiros adequados com acessibilidade a pessoas com deficiência e mais segurança no terminal rodoviário”. O diretor de transportes rodoviários do Daer explicou que não é possível conviver com os passageiros cruzando de um lado para o outro no terminal rodoviário. “Só não aconteceu uma tragédia porque os fiscais estão sempre atentos e os ônibus circulam em baixa velocidade.” Ele afirmou que a concepção de terminal rodoviário em Porto Alegre é mais ou menos parecido com o do Aeroporto Internacional Salgado Filho com muita segurança para os usuários. A Rodoviária da Capital teria um painel semelhante ao do aeroporto com o acompanhamento das chegadas e partidas dos ônibus e informações aos usuários sobre o tempo de viagem.

Hagemann informou que o processo de licitação para a modernização da Estação Rodoviária de Porto Alegre vai acontecer este ano. O modelo de licitação já foi encaminhado para análise da Procuradoria Geral do Estado (PGE) e Agergs.

O movimento de passageiros diminuiu nos últimos dois anos na Estação Rodoviária de Porto Alegre. Hoje, são vendidas 14 mil passagens por dia. Antes, eram comercializados quase 20 mil bilhetes por dia. Mesmo com a queda no número de usuários, o diretor de Operações da Estação Rodoviária de Porto Alegre, Giovanni Luigi, disse que a concessionária Veppo, que administra a rodoviária a quase cinco décadas, está sempre atenta às novas tecnologias. “Com ou sem crise temos que fidelizar os nossos clientes. Temos a mesma tecnologia de qualquer aeroporto do mundo”, destacou.

Luigi afirma que a rodoviária de Porto Alegre foi a primeira do país a comercializar passagens pré-impressa pelo computador e a descentralizar a venda de bilhetes com diversos postos. Hoje, são sete na Capital e um em Canoas. Segundo Luigi, uma pesquisa realizada pela concessionária mostrou que o usuário do serviço quer qualidade e agilidade. A pesquisa mostrou também que o passageiro quer informações de como comprar a passagem pelo computador ou pelo celular, tempo de viagem ou se pode adquirir o bilhete com ou sem seguro. Ao chegar ao terminal, os usuários querem banheiros limpos, ônibus pontuais e com ar condicionado e uma rodoviária limpa. “A pontualidade é sagrada para as empresas de ônibus. Não adiantaria nada para a rodoviária ter plataformas tecnológicas e treinar os funcionários se não houvesse um comprometimento das empresas em prestar um bom serviço ao passageiro”, acrescentou o diretor de Operações da rodoviária.

 

Informações de Claudio Isaías e Jéssica Hübler - Correio do Povo

Fonte: Correio do Povo