Mundo vive a maior recessão democrática dos últimos 15 anos

11/03/2021 (Atualizado em 11/03/2021 | 16:22)

reprodução Freedon House
reprodução Freedon House

Um levantamento da Freedom House, organização de defesa dos direitos humanos, aponta que “a longa recessão democrática está se aprofundando” no mundo. A liberdade política foi reduzida em seu menor nível desde 2005: 78 países e territórios perderam direitos políticos e liberdades civis em 2020, enquanto 29 avançaram, o pior resultado dos últimos 15 anos. Foram considerados livres 82 países, a maior baixa até então registrada.

 Menos de 20% da população global vive hoje em países livres, a menor proporção desde 1995. A organização afirma que quase 75% da população mundial vivia em um país que se tornou menos democrático em 2020.

As mudanças precipitadas pela pandemia deixaram muitas sociedades em piores condições políticas, com desigualdades raciais, étnicas e de gênero mais pronunciadas e liberdades mais vulneráveis a efeitos de longo prazo, avalia o relatório.

A pandemia mudou o equilíbrio internacional em favor da tirania, afirmam Sarah Repucci, chefe do departamento de análise da Freedom House, e a analista Amy Slipowitz, autoras do relatório. “Líderes em exercício cada vez mais usam a força para esmagar oponentes e acertar contas, às vezes em nome da saúde pública”.

A Freedom House também identifica fragilidades na falta de confiança nos partidos políticos tradicionais, na corrupção endêmica, nas altas taxas de crimes violentos, na discriminação social e na violência contra pessoas LGBT.

Além do maior número de países não livres, as pontuações desses países diminuíram em média cerca de 15%. Ativistas pela democracia foram presos, torturados ou mortos em vários locais, enquanto a maioria da opinião pública estava mobilizada pelo combate à emergência de saúde, de acordo com a organização.

Dentre os países que recuaram na liberdade, o que teve a maior perda foi Belarus, que desde agosto de 2020 impôs uma repressão severa a opositores do ditador Alexandr Lukachenko. O país europeu deteve dezenas de milhares de pessoas e conta mais de 200 presos políticos.

Com 74 pontos entre 100 possíveis, o Brasil manteve sua classificação de país livre, no limite inferior no que se refere a liberdades civis. O relatório afirma que, embora polarizado, o ambiente político é aberto ao debate, e as eleições, competitivas e livres. No entanto, jornalistas independentes e ativistas da sociedade civil correm o risco de assédio e ataques violentos.

 

Em relação ao ano anterior, o país perdeu um ponto, no critério de igualdade de oportunidades e liberdade de exploração econômica. No início da pandemia, a pobreza e a desigualdade no Brasil aumentaram mais desde 2014 do que em qualquer outro país da América Latina, e houve recordes de desemprego e força de trabalho”, afirma o relatório.

De acordo com a Freedom House, o programa de ajuda do governo brasileiro reduziu as taxas de pobreza em 2020, mas “não incluiu quaisquer mudanças estruturais para conter a tendência de maior desigualdade”.

Dos 35 países e territórios americanos analisados pela entidade, 21 são considerados livres. O Brasil está na 20ª posição.

De acordo com as analistas, a invasão ao Congresso dos EUA, nos primeiros dias de 2021, foi um sintoma visível da deterioração democrática americana no ano anterior, impulsionada pela recusa de Trump em admitir sua derrota nas eleições de novembro.

O Chile, terceiro mais livre das Américas, atrás de Canadá e Uruguai, é apontado como exemplo de país em que movimentos de protestos permitiram a conquista de melhorias democráticas, mas é uma exceção.

 


Fonte: PSB Nacional com informações da Folha de S. Paulo