PSB na mídia: Entrevista de Beto Albuquerque ao Paralelo 29 (de Santa Maria)

21/09/2021 (Atualizado em 22/09/2021 | 09:48)

Remédios amargos abriram espaço para investir em educação, diz Beto Albuquerque

arquivo pessoal Beto Albuquerque/Paralelo 29
arquivo pessoal Beto Albuquerque/Paralelo 29

Paralelo 29 – O que leva o PSB a lançar candidatura própria no Rio Grande do Sul?

 

Beto Albuquerque – Tivemos três candidaturas próprias que foram disputas das quais participamos para construção partidária. Hoje, achamos que temos chance de uma disputa real e, até quem sabe, ser a candidatura do campo progressista. Pesquisas mostram uma avenida aberta. Eu apareço com um percentual entre 9 e 10%.

 

Paralelo 29 – Hoje, o PSB integra o governo Eduardo Leite, que é favorável a privatizações. Essa aliança com o PSDB não vai ter continuidade?

 

Beto – Temos uma secretaria, que é a pasta de Obras e Habitação, com o nosso companheiro José Stédile. É uma participação muito modesta. E quanto a sair e ter candidatura própria, não vejo problema. O próprio PSDB saiu do governo Sartori (José Ivo Sartori, do MDB) para lançar candidatura própria. Quanto às privatizações, não temos dogmas sobre concessões nem quanto a privatizações. Empresas públicas que não conseguem pagar seus impostos não podem ficar dando prejuízo ao Estado.

 

Paralelo 29 – O senhor é favorável à privatização da Corsan?

 

Beto – Não precisa vender a Corsan. No nosso caso, vamos fazer como a Região Metropolitana, construir uma Participação Público Privada (PPP). Eu faria diferente, levaria a empresa para a bolsa de valores para abrir ações. O PSB acha que a empresa deve abrir seu capital, se livrar de interesses políticos e, aí sim, vender ações, podendo vender até 49%. Não deixaríamos de comandar a Corsan, que é uma empresa social, importante principalmente para municípios pequenos com dificuldades de investimentos.

 

“Não temos dogmas sobre concessões nem quanto a privatizações. Empresas públicas que não conseguem pagar seus impostos não podem ficar dando prejuízo ao Estado”

 

 

Beto Albuquerque com cozinheiras durante a campanha ao Senado, em 2018, em Caxias do Sul/Foto: Facebook, Reprodução

Paralelo 19 – Caso a Corsan seja mesmo privatizada e o PSB ganhar o governo do Estado, o senhor vai rever a privatização?

 

Beto – Não vamos reverter coisas já conclusas, e o que estiver bem temos que dar continuidade.

 

Paralelo 29 – Qual o grande problema do Rio Grande do Sul?

 

Beto – O grande calcanhar de Aquiles do Rio Grande do Sul é sua estrutura escolar, estamos no fim da fila no desempenho escolar, nossa rede não tem tecnologia, não tem laboratórios. Queremos ter laboratórios de startup. Não podemos formar pessoas para ganhar salário mínimo. Veja o caso da escola Olavo Bilac (Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac), em Santa Maria, que está precisando de reforma urgente no prédio. Não temos como ter empreendedores sem educação. E esse é o grande desafio, fazer como há em outros estados, escolas de tempo integral.

 

Não podemos formar pessoas para ganhar salário mínimo. Não temos como ter empreendedores sem educação. Esse é o grande desafio

 

Paralelo 29 – E como fazer isso tudo? É possível valorizar os servidores da Educação? De que setor sairá dinheiro para isso?

 

Beto – A época do remédio amargo, da redução de direitos, acabou. Os remédios amargos abriram espaço fiscal muito significativo. Hoje, temos 110 mil professores inativos e 90 mil em atividade. O novo Fundeb vai abrir espaço para recomposições, já que permite gastar até 70% dos recursos com professores, embora exclua os aposentados. Esses 110 mil o Estado vai ter que absorver. Quando eu digo que vou avaliar a questão salarial, é porque já avaliei o novo Fundeb. Não tem mais crescimento vegetativo na folha justamente porque os remédios amargos abriram esse espaço fiscal bastante significativo.

 

 

Beto diz que RS tem espaço para investir em educação e em educadores/Foto: Reprodução, Facebook

Paralelo 29 – O senhor pretende pagar o piso nacional do magistério?

 

Beto – Certamente é possível pagar com o espaço fiscal do corte de direitos, aqueles direitos que chamavam de penduricalhos, mas que eu chamo de ganho. Quanto aos inativos, que normalmente têm só reposição, eles terão que receber o piso também. E tem espaço fiscal para isso. Um paciente que passa muito tempo tomando remédio amargo, morre. E, por fim, atualmente, há mais alunos do Ensino Fundamental na rede estadual que na municipal. São 480 mil que seguem nas escolas estaduais e que deveriam estar na rede municipal. A rede estadual tem 225 mil no ensino médio, que é tarefa exclusiva do Estado.

 

Paralelo 29 – A Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), que foi uma bandeira sua, está cumprindo seu papel?

 

Os remédios amargos abriram espaço fiscal muito significativo

 

Beto – A ideia inicial da UERGS, que nasceu em 1986, quando eu era presidente do DCE da Universidade de Passo Fundo (UPF), não era construir uma universidade repetidora de cursos. Seu papel era de ser um grande guarda-chuva para preparar mão de obra foca na cultura das regiões. Não é para formar médico, advogado. A UERGS tem que ser mais prestigiada, tem poder de captação de fundos internacionais e nacionais. Tem que ter inovação. Vislumbro a UERGS como esse grande guarda-chuva.

 

Paralelo 29 – O senhor tem proposta de expansão da UERGS?

 

Beto – Temos que pensar em novos campus, mas é preciso um desenho adequado à realidade econômica e cultural de cada região. Não adianta empilhar diploma.

 

Paralelo 29 – Quando o senhor fala que há espaço para gastar, temos que lembrar a dívida do Estado com a União. E como o senhor vê o desempenho do governo Leite na questão de finanças estaduais?

 

Beto – O Eduardo Leite é muito habilidoso, conseguiu a volta da normalidade. Agora, não podemos esquecer que temos uma liminar segurando R$ 3 bilhões por ano, são R$ 300 milhões por mês. Se cai a liminar, será um Deus nos acuda. Então, o governo conseguiu espaço no caixa com reformas, liminar, aporte do governo federal para a saúde na pandemia, a arrecadação dos estados cresceu muito porque o ICMS é o mesmo de quando a gasolina era R$ 3, os estados estão arrecadando mais ICMS. Há R$ 15 bilhões que deixaram de ser pagos, mas é uma dívida pendurada em uma liminar.

 

Não podemos esquecer que temos uma liminar segurando R$ 3 bilhões por ano. Se cai a liminar, será um Deus nos acuda

 

Paralelo 29 – Os governos petistas tiveram o Orçamento Participativo, hoje temos a Consulta Popular. Ela está cumprindo seu papel?

 

Beto – O espírito de você envolver a comunidade é positivo, mas temos que trabalhar com toda a transparência.

 

Paralelo 29 – Os Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes) acabaram perdendo importância. Qual sua proposta para os Coredes?

 

Beto – Temos que dar uma reavaliada na organização, ver como estão. Vamos fazer um estudo. Quem sabe adotar a ideia das administrações regionais, como existe em Santa Catarina. Criar estruturas é impensável, mas quem sabe pegar essa estrutura já existente e torná-la mais próxima, mais sintonizada.

 

Paralelo 29 – O governo fez a concessão da RSC-287, que liga Santa Maria e Região Central à Região Metropolitana, e as obras de duplicação estão começando pelo trecho Tabaí-Canoas. Há um movimento questionando porque a duplicação não começa, ao mesmo tempo, também na parte de Santa Maria. É possível mudar esse contrato e incluir o trecho de Santa Maria agora?

 

Beto – O que está contratado pode ser repactuado. Para isso, temos que levar em consideração um índice, que é o volume diário de veículos. É possível, desde que tenha um movimento de tráfego.

 

Paralelo 29 – O que o PSB e o senhor pensam em termos de aliança para o governo estadual?

 

Beto – Ainda é cedo porque o tabuleiro nacional não se definiu e a polarização nacional não repercute no Rio Grande do Sul da mesma forma. O RS sempre tem buscado a chamada terceira via. Mas o PSB não se coloca como terceira via. Tenho um perfil de identidade com o campo de centro-esquerda, com possibilidade de dialogar com o outro campo, que pode se ampliar além do PC do B, do PDT. Minha pré-candidatura está posta para disputar o governo no primeiro turno. Portanto, ela é irreversível. Não lançamos a pré-candidatura para negociar.

 

Minha pré-candidatura está posta para disputar o governo no primeiro turno. Portanto, ela é irreversível. Não lançamos a pré-candidatura para negociar

 

Paralelo 29 – Em nível nacional qual a tendência do PSB?

 

Beto – O PSB já discutiu candidato próprio, não deu. Temos relação muito boa com o Ciro (Ciro Gomes, do PDT), mas temos muitos estados sintonizados com a candidatura do Lula. Nacionalmente, colocamos para o PT que temos interesse no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo e Pernambuco. Nesses cinco estados queremos apoio do PT para validar um apoio ao Lula. No meu palanque, sobe quem me apoia.

 

PSB – Quando o senhor fala em candidatura de centro-esquerda com capacidade para dialogar com o outro lado, o que isso quer dizer em termos de alianças?

 

Beto – É óbvio que não pertenço ao pensamento político que o Bolsonaro representa, embora eu respeite os que pensam dessa forma. Mas não estaremos juntos nem no primeiro nem no segundo turno. Vou dialogar muito com esse mundo empreendedor, trabalhador, ouvir muito as pessoas e nessa caminhando a gente vai encontrando parceiros. Só não vou fazer composições que alterem minhas convicções.


Clique aqui e veja na íntegra a matéria sobre Beto Albuquerque feita pelo Paralelo 29.

Fonte: Paralelo 29/ José Mauro Batista