Filhos de Bolsonaro e ala radical do governo atropelam Itamaraty na ONU

22/09/2021 (Atualizado em 22/09/2021 | 15:21)

Foto: Johannes Elisele / AFP
Foto: Johannes Elisele / AFP

Bem que um grupo do Itamaraty tentou suavizar a postura bizarra de Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Mas, como informa o jornalista Jamil Chade, do Uol, esses diplomatas foram atropelados pelos aliados mais próximos do atual chefe do Executivo brasileiro, os filhos de Bolsonaro e a ala mais radical.

As primeiras versões do discurso lido por Bolsonaro, que causou choque e foi mais um vexame para o Brasil ao redor do mundo, enfatizava o multilateralismo, falava em doação de vacinas e até na recuperação de alianças. O total oposto do que foi dito por Bolsonaro.

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Sem a presença do aliado Donald Trump, com a Europa resistente a uma aproximação com Bolsonaro, com denúncias sistemáticas feitas por relatores da ONU contra o Brasil, o Itamaraty buscava reduzir a pressão internacional.

Bolsonaro fala aos seus radicais na ONU

Na reunião dos Brics, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, houve uma pequena vitória do grupo de diplomatas nas declarações de Bolsonaro.

Bolsonaro distribuiu afagos até mesmo para o presidente da China, Xi Jinping, um dos alvos de suas críticas nos últimos meses.

Mas os elogios aos chineses não foram recebidos de forma positiva pela ala mais radical, ávida para que seus princípios fossem refletidos na política externa.

Saudades de Ernesto

Sob o comando de Ernesto Araújo, o Itamaraty seguia à risca a cartilha bolsonarista. Indicado para a vaga após a saída de Araújo, Carlos França tenta manter uma postura mais próxima das linhas tradicionais do Itamaraty.

Mas o novo chanceler não foi suficiente para frear a pressão da ala mais radical. Apesar de um texto inicial mais moderado, mudanças acabaram ocorrendo nas últimas 24 horas para incluir elementos que repetem a postura do Brasil sob Araújo.

Assim, quando o presidente subiu ao púlpito mais importante da diplomacia internacional, o texto continha referências à família tradicional, combate ao socialismo e defesa do cristianismo. Ou seja, a constatação de que a política externa continua a manter uma clara linha ideológica.

Bolsonaro fez ONU de palanque

Com sua aprovação despencando a cada dia, Bolsonaro tenta segurar o núcleo que parece se manter firme no apoio ao presidente. Por isso, a necessidade de se tentar manter próximo dos eleitores evangélicos.

Usar termos e referências que façam acenos aos grupos na ONU era considerado estratégico.

Uma delas foi as referências ao cristianismo, causando apreensão entre entidades de direitos humanos.

“O Brasil tem um presidente que acredita em Deus”, disse Bolsonaro, que emendou em outro trecho indicando que defende a liberdade de culto.

Bolsonaro também anunciou que a decisão do Brasil de dar vistos humanitários para afegãos beneficiaria cristãos.

Critério cristão de Bolsonaro

Há duas semanas, Jamil Chade revelou que o governo pensava na possibilidade de estabelecer tais vistos como forma de ajudar a população local diante da chegada do Talibã. Dias depois, a decisão foi confirmada.

Porém, nesta terça, pela primeira vez, Bolsonaro explicou a quem tais vistos seriam destinados.

“O futuro do Afeganistão também nos causa profunda apreensão. Concederemos visto humanitário para cristãos, mulheres, crianças e juízes afegãos”, afirmou.

Procuradas, altas fontes do Itamaraty explicaram que não haverá o critério com base na religião e que a referência, uma vez mais, é um aceno à base mais dura do bolsonarismo.

Com informações do Uol

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Fonte: Socialismo Criativo