Socialistas criticam apelo de Bolsonaro à população para conter crise energética

24/09/2021 (Atualizado em 24/09/2021 | 11:49)

Foto: Reprodução
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Parlamentares socialistas fizeram duras críticas às declarações de Jair Bolsonaro (sem partido) sobre a crise energética. Para se isentar da responsabilidade pela crise que assola o país, durante sua live semanal, realizada na quinta-feira (23), Bolsonaro colocou na conta da população mais sacrifícios e voltou a pedir hoje que as pessoas apaguem as luzes em casa para economizar energia, sugerindo também evitar elevadores e tomar banhos frios, quando possível.

“Se puder apagar uma luz na tua casa apaga, eu peço por favor. Não use elevador. Tomar banho é bom, mas se puder tomar banho frio é muito mais saudável, ajuda o Brasil. A gente pede a Deus que agora em novembro, final de outubro, venha chuva para valer no Brasil. Para que a gente não tenha problema no futuro, que podemos ter problema no futuro”, disparou o chefe do Executivo.

Em contrapartida, o líder da Minoria, Marcelo Freixo (PSB-RJ), afirmou nas redes sociais que a solução que ajudaria a resolver o problema de energia no país seria ter um presidente que não fosse omisso e um governo com uma boa gestão para enfrentar a crise hídrica.

Já o deputado federal Camilo Capiberibe (PSB-AP), sugeriu “tirar o presidente inepto e corrupto” do poder “e não privatizar as empresas públicas, mas investir e melhorar a qualidade dos seus serviços e a gestão dos recursos naturais”.

Especialistas do setor elétrico vem alertando o governo Bolsonaro há meses sobre a crise hídrica e os riscos de apagão no país. O governo, entretanto, não tomou medidas para evitar o problema, e agora os cortes de energia elétrica voltam a ser registrados em diferentes regiões do país e a possibilidade de blackouts é grande.

No final de agosto, também em transmissão ao vivo, Bolsonaro já havia feito um apelo para que as pessoas economizassem energia e “apagassem um ponto de luz” em casa. Ele também disse que algumas hidrelétricas, sem especificar quais, poderiam parar de funcionar caso a situação se agrave.

“Em que pese estarmos vivendo a maior crise hidrológica da história, 91 anos que não tínhamos uma crise como essa… Vou até fazer um apelo a você que está em casa agora: tenho certeza que você pode apagar um ponto de luz na sua casa agora. Peço esse favor para você, apague um ponto de luz agora”, pediu o presidente na ocasião.

Medidas do governo

A crise hídrica levou o governo a anunciar em agosto algumas medidas para redução do consumo de energia em toda a administração pública federal. Um decreto presidencial determinou a redução do consumo de eletricidade desses órgãos entre 10% e 20% em relação ao mesmo mês nos anos de 2018 e 2019, ou seja, antes do período pré-pandemia.

Paralelamente, o Ministério de Minas e Energia decidiu enviar energia elétrica produzida no Nordeste para compensar a escassez do Sul e do Sudeste. Segundo disse em 25 de agosto Luiz Carlos Ciocchi, presidente do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), isso se deve à “espetacular” geração de energia eólica nos estados nordestinos.

“Agosto foi um mês muito seco. A única região do Brasil onde poderia ter uma chuva esperada era a região Sul. Essa chuva não apareceu na intensidade que a gente esperava. Então temos aí uma situação bastante crítica”, explicou Ciocchi em coletiva.

Manifestação contra aumento da conta de luz

Em meio à crise econômica, o agravamento da fome e os sucessivos aumentos nos preços de combustíveis, gás e alimentos, o governo Bolsonaro, no início de setembro, impôs um novo aumento na tarifa de energia elétrica, sob a justificativa da crise hídrica – apesar de especialistas apontarem que o governo federal já havia sido alertado sobre a escassez e possibilidade de apagões e nada fez.

Este cenário tem deixado famílias que já eram vulneráveis em situação insustentável e, pensando nisso, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) promoverá manifestações em São Paulo, na próxima semana, contra as tarifas abusivas de energia elétrica.

Serão dois atos: nas agências ENEL Distribuição São Paulo localizadas em Santo Amaro e São Miguel Paulista.

“A reivindicação organizada pelo MAB denuncia os altos preços da energia elétrica, que têm afetado principalmente a população de baixa renda. Os paulistanos têm relatado que desde julho de 2020 têm sofrido grandes aumentos nas tarifas, chegando contas de mais de R$1.000,00 para famílias de baixa renda. Só no mês citado, o Procon recebeu mais de 40 mil reclamações de usuários. No entanto, a empresa apenas tem oferecido o parcelamento do pagamento, sem explicar as causas do aumento nem realizar a devolução do dinheiro”, diz comunicado do movimento.

Com a nova bandeira tarifária implementada pelo governo federal, houve aumento de R$ 14,20 para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumido, impactando o orçamento das famílias.

“Muitas das famílias comentam que, com o aumento das tarifas, têm deixado de comer para ‘não ficar no escuro’”, relata o MAB.

Nova bandeira tarifária

A conta de luz está mais cara desde o dia 1º de setembro. O governo reajustou a bandeira tarifária que cobrava R$ 9,49 por cada 100 kWh consumidos, passando o valor para R$ 14,20. A alta é de 49,6%.

No mês de junho a energia elétrica já havia sofrido um forte reajuste de mais de 50%, passando de R$ 6,24 por cada 100 kWh para os atuais R$ 9,49. Segundo a Aneel, o aumento que entrará em vigor a partir de amanhã (1°) elevará em média 6,78% as contas dos consumidores domésticos no país, embora o percentual varie de acordo com o local do fornecimento. Na região metropolitana de São Paulo, a Enel, concessionária responsável pela distribuição de luz, no último aumento, em junho, subiu a tarifa acima da média nacional, impondo aos paulistas que vivem na Grande São Paulo um reajuste de 11,58% na ocasião.

Inflação nas alturas

Os gastos dos brasileiros só têm aumentado durante o governo Jair Bolsonaro. Para se ter uma noção do descontrole dos preços, só em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) marcou 0,89%, o maior desde 2002, além de 9,3% no acumulado dos últimos 12 meses. Vivem em condições precárias por conta da perda de poder de compra, a população com menor renda vem deixando de comer arroz, feijão, carne, peixe e outros itens.

Os números da alta de preços são impressionantes: 12,29% nos ovos, 17,15% no café; 31,31% nas carnes, 36,89% no arroz, 78,75% no óleo de soja, 31,11% no gás de cozinha, 39,12% na gasolina, 52,77% no etanol e 20,86% na conta de luz, resultando num aumento de 33% no gasto geral dos trabalhadores.

Fonte: Ivan Longo para o Socialismo Criativo - Com informações do Uol