Bolsonaro declara guerra contra vacinação de crianças

21/12/2021 (Atualizado em 21/12/2021 | 11:05)

Foto: Reprodução
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Desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o uso da vacina da Pfizer contra a covid-19 em crianças de 5 a 11 anos de idade no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem declarado “guerra” ao imunizante e ao órgão que proferiu a aprovação. Bolsonaro tem distorcido dados para levantar dúvidas sobre a segurança e eficácia dos imunizantes, especialmente nos mais jovens.

No dia 02 de dezembro, antes da aprovação da Anvisa sobre o uso do imunizante da Pfizer contra a covid-19 em crianças, Bolsonaro declarou que vacinar crianças contra covid era “uma decisão, realmente, complicada para qualquer pai”.

“A gente quer, quando se fala em vacina, muitas vezes, a vacina é essa que sabemos quais são. Já comprovadas, que levaram 5, 10, 20 anos, para depois de muitos testes ser aplicada na população. Agora essa está muito rápida”, declarou ainda, ignorando que o imunizante tem registro definitivo da Anvisa.

Depois da liberação, Bolsonaro atacou os servidores da Anvisa durante uma live realizada na quinta-feira (16).

“Eu pedi, extraoficialmente, o nome das pessoas que aprovaram a vacina para 5 a 11 anos. Nós queremos divulgar o nome dessas pessoas para que todo mundo tome conhecimento de quem são essas pessoas e, obviamente, formem o seu juízo. A responsabilidade é de cada um. Mas agora mexe com as crianças, então quem é responsável por olhar as crianças é você, pai. Eu tenho uma filha de 11 anos de idade e vou estudar com a minha esposa bastante isso aqui” Jair Bolsonaro

“Não sei se são diretores e o presidente que chegaram a essa conclusão ou o tal do corpo técnico. Mas seja qual for, você tem direito a saber o nome das pessoas que aprovaram a vacina a partir de 5 anos para seu filho. E você decida se essa vacina se compensa ou não”, declarou.

Essa não é a primeira vez que o presidente ataca os servidores da Anvisa que, inclusive, pediram proteção por conta das constantes ameaças violentas que sofrem por liberarem as doses para os adolescentes com mais de 12 anos.

Bolsonaro, por meio do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, até conseguiu suspender a vacinação dessa faixa etária por um momento, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) restabeleceu o direito dos jovens de se vacinar.

Leia também: Anvisa aprova vacina da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos

No dia 28 de outubro, cinco diretores da Anvisa receberam ameaças de morte por e-mail caso houvesse aprovação pela agência de vacinas contra a covid-19 para crianças. No dia seguinte, uma segunda correspondência eletrônica, desta vez anônima, fez ameaças a servidores, diretores, funcionários terceirizados e seus familiares.

Diante das ameaças, a Anvisa acionou a Polícia Federal para investigações. No dia 5 de novembro, a Polícia Civil do Paraná afirmou ter identificado o homem que ameaçou autoridades do estado do Paraná e da Anvisa. O nome do suspeito não foi revelado.

Atualmente, diversos países no mundo já vacinam as crianças contra a Covid-19 e também usam a fórmula da Pfizer/BioNTech, que é de 1/3 da quantidade da fórmula dos adultos. Entre eles, estão Estados Unidos e todos os países-membros da União Europeia. Já China e Chile, por exemplo, também usam a CoronaVac para esse grupo.

Servidores reagem a ameaças

Servidores que compõem o corpo técnico da Anvisa resolveram expor seus nomes como forma de reagir à intimidação de Jair Bolsonaro, que pediu lista dos envolvidos na aprovação da vacinação contra a covid-19 em crianças de 5 a 11 anos.

“Sou servidor da Anvisa e aprovei a vacina”, diz frase escrita em placa exibida por dezenas de trabalhadores. As fotos foram compiladas em um vídeo divulgado neste sábado (18) pela Associação de Servidores da Anvisa (Univisa).

Em nota divulgada na sexta-feira (18), a Anvisa afirmou que seu trabalho “é pautado na ciência e oferece ao Ministério da Saúde, o Gestor do Plano Nacional de Imunização – PNI, opções seguras, eficazes e de qualidade”. “Em outubro do corrente ano, após sofrer ameaças de morte e de toda a sorte de atos criminosos, por parte de agentes antivacina, no escopo da vacinação para crianças, esta Agência Nacional se encontra no foco e no alvo do ativismo político violento”, disse a entidade.

“A Anvisa está sempre pronta a atender demandas por informações, mas repudia e repele com veemência qualquer ameaça, explícita ou velada que venha constranger, intimidar ou comprometer o livre exercício das atividades regulatórias e o sustento de nossas vidas e famílias: o nosso trabalho, que é proteger a saúde do cidadão”, apontou.

Receita médica e autorização dos pais

Bolsonaro afirmou no domingo (19) que pediu ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que os pais ou responsáveis de menores de 12 anos tenham que assinar um termo de responsabilidade para vacinar as crianças, além da exigência de receita médica. A declaração ocorreu durante conversa com apoiadores, em Praia Grande, no litoral sul de São Paulo.

“Trabalhamos sábado o dia todo. Comecei às 3h30 da manhã, às 4h liguei para o Queiroga e dei uma diretriz para ele. Obviamente, é ele quem bate o martelo porque é o médico da equipe. Vai passar pela Saúde”, relatou.

“O que pretendemos fazer? Vacina para crianças só se autorizada pelos pais. Se algum prefeito, governador ou ditador quiser impor é outra história, mas do governo federal tem que ter autorização dos pais e uma receita médica”, completou.

Bolsonaro classificou a liberação feita pela Anvisa em vacinar crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19 como “inacreditável”.

“Estamos trabalhando. Nem a tua [vacinação] é obrigatória, é liberdade. Criança é coisa muito séria. Não se sabe os possíveis efeitos adversos futuros. É inacreditável, desculpa aqui, o que a Anvisa fez. Inacreditável”, disse o chefe do Executivo.

Audiência pública sobre vacinação em crianças

O ministro Marcelo Queiroga ameaça desautorizar a imunização para crianças de 5 a 11 anos liberada pela Anvisa, na última quinta-feira (16).

Apesar dos dados recentes indicando que o número de mortes pela doença teve queda de 94% com o avanço da vacinação, Marcelo Queiroga afirmou que quer debater se irá ou não adotar a vacinação para crianças dessa faixa etária em uma consulta pública.

“Vamos divulgar um cronograma antes de tomar uma decisão. Queremos discutir esse assunto com a sociedade. Iremos realizar uma audiência pública. O ministério vai fazer uma análise sobre todos os aspectos dessa vacinação”, declarou Queiroga, em entrevista à CNN Brasil.

Segundo Queiroga, a Câmara Técnica Assessoria de Imunizações vai divulgar na próxima quarta-feira (22) um parecer sobre a vacinação de crianças e o encaminhará à secretária especial da covid-19, Rosana Leite.

Segundo Queiroga, a Câmara Técnica Assessoria de Imunizações vai divulgar na próxima quarta-feira (22) um parecer sobre a vacinação de crianças e o encaminhará à secretária especial da covid-19, Rosana Leite.

Após essa etapa, a pasta abrirá uma consulta pública e as sugestões serão debatidas em uma audiência pública no dia 4 de janeiro de 2022. Somente após esse evento é que o ministério pretende decidir se inclui ou não as crianças no Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Queiroga admitiu que o contrato atualmente vigente com a Pfizer já prevê a oferta das versões mais atualizadas da vacina, tanto em termos de novas variantes como de novas faixas etárias.

Questionado sobre o aval da Anvisa, o ministro disse que a posição técnica da agência não é suficiente para iniciar a vacinação de crianças. Bolsonaro, que é contra a vacina, já se manifestou várias vezes contra a imunização do público infantil.

“Eu sou a principal autoridade sanitária do Brasil e não abro mão de exercer as minhas prerrogativas, porque elas decorrem da decisão do mandatário máximo da nação, senhor Jair Messias Bolsonaro”, afirmou o ministro da Saúde.

Fonte: Socialismo Criativo