Bolsonaro utiliza guerra para justificar mineração em terras indígenas

03/03/2022 (Atualizado em 03/03/2022 | 14:38)

reprodução internet
reprodução internet

O presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu na quarta-feira (2), sob o argumento de que há risco de desabastecimento de fertilizantes no Brasil por conta do conflito entre Rússia e Ucrânia, a aprovação no Congresso de projeto que permite a mineração em reservas indígenas.

Bolsonaro, que há cerca de duas semanas chegou a visitar a Rússia para negociar o suprimento de fertilizantes, já vinha destacando em declarações públicas que o Brasil possui reservas de potássio, utilizado em fertilizantes, mas em reservas indígenas.

“Com a guerra Rússia/Ucrânia, hoje corremos o risco da falta do potássio ou aumento do seu preço. Nossa segurança alimentar e agronegócio (Economia) exigem de nós, Executivo e Legislativo, medidas que nos permitam a não dependência externa de algo que temos em abundância”, publicou o presidente em seu perfil do Twitter.

Nosso Projeto de Lei n° 191 de 2020, ‘permite a exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em terras indígenas’. Uma vez aprovado, resolve-se um desses problemas”, acrescentou Bolsonaro.

A ministra da Agricultura brasileira, Tereza Cristina afirmou esta quarta-feira que os estoques de fertilizantes do país devem durar até outubro, quando se intensifica o plantio da safra de grãos de verão.

O Brasil importa cerca de 85% do seu consumo de fertilizantes, incluindo potássio, que enfrenta um “gargalo” maior em função do conflito e de sanções ocidentais a Belarus, importante produtor. No caso dos potássicos, as compras externas do país somam 96% do consumo.

Tanto os bielorrussos quanto os russos são grandes fornecedores de potássio ao Brasil, mas há restrições geopolíticas e as sanções aplicadas pelo Ocidente a Moscou.

Brasil compra fertilizantes da Rússia

Os fluxos comerciais do Brasil com a Rússia são mais intensos do que com a Ucrânia. O país governado por Vladimir Putin foi o sexto maior exportador ao Brasil no ano passado, tendo vendido US$ 5,7 bilhões. Entre os principais produtos da pauta estão fertilizantes.

A nossa balança comercial com os russos é deficitária: em 2021, exportamos ao país US$ 1,6 bilhão. Vendemos à Rússia principalmente soja, carne e café.

Já o comércio bilateral entre Brasil e Ucrânia é reduzido. O país do leste europeu ocupa a 75ª posição entre os maiores destinos de exportações brasileiras e o 63º lugar entre os países dos quais mais importamos.

O fluxo comercial entre os dois países em 2021 foi de aproximadamente US$ 438 milhões. No ano passado, o Brasil teve pequeno superávit na balança comercial com o país, de US$ 15,4 milhões.

O conflito tem preocupado especialmente produtores de amendoim que exportam aos dois países. O amendoim é hoje o principal produto da pauta de exportações do Brasil à Ucrânia. O valor exportado no ano passado foi de US$ 29,2 milhões.

Leia tambémAtaque russo à Ucrânia abala economia global e pode afetar o Brasil

Um dos maiores exportadores brasileiros do produto é a indústria paulista Beatrice Peanuts, que tem cerca de 450 funcionários e diz vender anualmente mais de 55 mil toneladas da commodity.

Rússia e Ucrânia, somados, representam 20% da receita da companhia com exportações atualmente, de acordo com o presidente da empresa, Pablo Rivera.

“O cenário é de incerteza porque não sabemos se as sanções econômicas à Rússia vão afetar os pagamentos. Se de fato as instituições financeiras russas perderem o código SWIFT (protocolo internacional de identificação de bancos), por exemplo, não conseguiremos receber pagamentos”, afirmou Rivera.

A Breatice Peanuts tem produtos já embarcados com destino ao porto de Odessa, na Ucrânia, cidade já tomada pela Rússia. A Ucrânia também é destino de exportação de máquinas agrícolas brasileiras. Segundo José Velloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a venda ao país é recorrente, embora pequena.

Multinacionais brasileiras como Stara e Jacto estão entre as empresas exportadoras de equipamentos para Ucrânia e Rússia, sendo que o mercado russo é mais relevante. Procuradas, as empresas não quiseram se manifestar.

Com informações da Reuters

Fonte: Socialismo Criativo