Monocultura do açaí prejudica biodiversidade da Amazônia

15/03/2022 (Atualizado em 15/03/2022 | 13:24)

Crédito: Pixabay
Crédito: Pixabay


Nas últimas décadas, o açaí ganhou o mundo e passou a render milhões de dólares para os produtores brasileiros, além de gerar emprego e renda para muitas famílias ribeirinhas. No entanto, o crescimento da monocultura do açaí tem um preço alto para a floresta amazônica, que acumula uma perda significativa de biodiversidade.

A conclusão é do estudo publicado no jornal acadêmico Biological Conservation, que analisou 47 diferentes áreas na região da foz do rio Amazonas nos últimos 20 anos. Em entrevista à BBC News Brasil, o biólogo Madson Freitas, autor do estudo, afirma que conforme crescia o cultivo do açaí, outras espécies perdiam espaço.

A fruta, rica em antioxidante, está presente hoje em todas as regiões do Brasil e em países como Estados Unidos e Emirados Árabes. Para atender toda essa demanda, a produção passou a atender à lógica da monocultura, criando o que os cientistas chamam de “açaização” da Amazônia.

Apesar de produtores e autoridades afirmarem que existem regras para garantir a preservação da floresta, os cientistas apontam que o açaí vem provocando mudanças profundas na Amazônia. Mudanças que podem desestabilizar todo o ecossistema.

Exportações crescem 15.000%

Para a população do norte do Brasil, o açaí é consumido tradicionalmente com farinha e peixe. Porém, para as demais regiões e para estrangeiros a fruta chega em forma de polpa congelada e geralmente é misturada com xarope de guaraná e ingredientes como mel e granola.

Leia também: Amazônia se aproxima de seu ‘ponto de inflexão’ e pode se tornar savana

Atualmente, o Brasil concentra cerca de 85% da produção mundial da fruta – uma média de 1,5 milhão de toneladas produzidas entre 2015 e 2020.

Açaizeiros | Crédito: Embrapa

Só em 2020, a produção nacional foi de 1,7 milhões de toneladas. O que representa 5% a mais do que no ano anterior de acordo com Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Em relação a 2015, o aumento foi de 38%. O Estado do Pará concentra 95% da produção, com cerca de 212 mil hectares. A Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) afirma que, entre 2011 e 2020, as exportações de açaí no Brasil aumentou 15.000%.

De 2011 a 2020 a produção passou de 40 toneladas para 5.363 toneladas. A maior parte da fruta fica no Brasil. Menos de 1% é exportado.

Sobre a pesquisa

Com início em 2013, a pesquisa mapeou um trecho de 376 mil Km² no lado leste da Amazônia, onde está a maior produção e colheita de açaí no Brasil.

A região é coberta por florestas de terra firme e estuarinas, ou seja, uma área alagada de transição entre um rio e o mar e manguezais. Ao longo dos rios Pará, Guamá e Tocantins, e áreas de várzea na Ilha do Marajó, nas proximidades de Belém.

Um dos alertas que a pesquisa acende é de que árvores que são símbolos da Amazônia, como a samaúma e o jatobá estão desaparecendo.

Crédito: Vinicios Braga/ Pará News

Em geral, elas são retiradas para que o sol possa incidir nos pés dos açaizeiros e aumentar a produtividade destes. De acordo com a pesquisa, em áreas onde há mais de 600 moitas de açaí por hectares, a biodiversidade caiu cerca de 50%.

De acordo com o Sindicato das Indústrias de Frutas e Derivados do Estado do Pará (Sindfrutas), atualmente existem 118 indústrias dedicadas ao processamento do açaí no Estado. A estimativa da entidade é que cada empresa gere direta ou indiretamente emprego para cerca de 5 mil famílias.

Leia também: Bolsonaro mente outra vez para liberar mineração em terras indígenas

Desde 2013, o governo do Pará estabeleceu normas para produção de palmito e açaí. De acordo com a legislação, cada produtor deve adotar técnicas adequadas à sustentabilidade da espécie. E estabelece a extração de, no máximo, 200 estipes, ou seja, caules do açaí. E o manejo de 400 touceiras (moitas) por hectare.

Os pesquisadores afirmam que as regras precisam ser revistas e associadas à outras medidas, como a criação de um programa de recuperação florestal com o replantio das espécies nativas.

Com informações de BBC News Brasil

Fonte: Socialismo Criativo