Há 35 anos Miguel Arraes voltava ao Campo das Princesas

16/03/2022 (Atualizado em 16/03/2022 | 12:04)

Miguel Arraes. Foto: Reprodução
Miguel Arraes. Foto: Reprodução


Há 35 anos, Miguel Arraes voltava ao Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco, para assumir o cargo de governador pela segunda vez.

Pela vontade popular, 23 anos depois de ser deposto, Arraes entrou pela mesma porta por onde saíra, preso por militares golpistas na tarde de 1º de abril de 1964, após negar-se a entregar o cargo de governador.

Naquele dia, os militares que cercaram o palácio propuseram a renúncia a Arraes como forma de evitar a sua prisão. A proposta foi recusada de pronto para, em suas palavras, “não trair a vontade dos que o elegeram”. Em consequência disso, Arraes saiu do Campo das Princesas escoltado e preso.

“Sei que cumpri até agora o meu dever para com o povo pernambucano, sei que estou fiel aos princípios democráticos e à legalidade e à Constituição que jurei cumprir. Deixo de renunciar ou de abandonar o mandato, porque ele está com minha pessoa e me acompanhará enquanto durar o prazo que o povo me concedeu e enquanto me for permitido viver”, disse o governador à época.

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Arraes foi encarcerado em uma pequena cela do 14º Regimento de Infantaria do Recife, sendo posteriormente levado para a ilha de Fernando de Noronha, onde permaneceu por onze meses. Depois, foi encaminhado para as prisões da Companhia da Guarda e do Corpo de Bombeiros, no Recife, e da Fortaleza de Santa Cruz, no Rio de Janeiro.

Seu pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) só foi concedido em 25 de maio de 1965. Devido ao risco iminente de uma nova prisão, Arraes foi orientado por seu advogado a exilar-se. Várias embaixadas estavam sitiadas pelos militares, restando apenas poucas opções de locais para pedir asilo político. Sendo assim, o próprio Arraes escolheu a Argélia, no continente africano. Neste país, atuou como importante articulador dos movimentos de esquerda brasileiros e em favor da libertação das colônias portuguesas.

Seu retorno ao Brasil acontecera em 15 de setembro de 1979, com base na Lei da Anistia, após viver 14 anos de exílio na Argélia. O cearense de nascimento, mas pernambucano de coração e de trajetória política, foi recebido por mais de 50 mil pessoas e importantes lideranças democráticas num comício, no bairro de Santo Amaro.

Com o retorno ao país, Miguel Arraes ainda conquistou três mandatos de deputado federal – nas legislaturas de 1983 a 1987, de 1991 a 1995, e de 2003 a 2005. Em 1990, filiou-se ao PSB. De 1995 a 1999, governou Pernambuco pela terceira vez. Além disso, tem também em seu currículo o mandato como prefeito do Recife entre 1960 e 1963 e como deputado estadual de Pernambuco de 1951 a 1959 (dois mandatos consecutivos).

Governo popular

As gestões de Arraes no governo de Pernambuco e na Prefeitura do Recife foram caracterizadas por programas voltados à área social, aos homens e mulheres do campo e as pessoas mais pobres.

Como prefeito do Recife, criou o Movimento de Cultura Popular (MPC) utilizado inicialmente como meio de alfabetização e construção de escolas na capital pernambucana e, depois, na conscientização política e elevação do nível cultural das camadas mais populares. Na época, Recife tinha apenas três escolas e o MPC conseguiu criar 201 novas unidades de ensino com 626 turmas.

Como governador, ganhou espaço entre os agricultores rurais por ser o primeiro gestor a sentar à mesa com trabalhadores e empresários usineiros para firmar um pacto que garantiria, entre outros benefícios, o pagamento do salário mínimo aos canavieiros. A ação ficou conhecida como Acordo do Campo e ele foi carinhosamente chamado de “pai Arraia” por essa população.

Arraes também implantou o “Chapéu de Palha”, que consistia na contratação de canavieiros, nos períodos de entressafra da cana, para trabalharem em pequenas obras públicas. Também forneceu moto-bombas para a irrigação de pequenos agricultores com o “Água na Roça”. Outro ponto central foi a eletrificação rural.

Em uma entrevista à Agência Brasil, em 2004, quando o golpe militar completava 40 anos, o socialista afirmou que “quem luta politicamente não tem direito de ter mágoa, nem alegria, só pode pensar naquilo que deve fazer”.

“Passei isso tudo, mas quero registrar que não tenho queixas a fazer, e que nem sou uma pessoa que tinha feito algo de extraordinário. Fiz menos que muitas pessoas nesse país. Fiz o que me competia e tinha que fazer”, disse.

Um ano após a entrevista, em 13 de agosto de 2005, o socialista faleceu no Recife. Seu corpo foi velado no Palácio do Campo das Princesas, sepultado no Cemitério de Santo Amaro da capital pernambucana e o cortejo foi seguido por milhares de pessoas que cantavam antigos jingles das suas campanhas políticas.

Em 2018, as letras do nome de Miguel Arraes de Alencar foram gravadas no livro de aço dos Heróis e das Heroínas da Pátria. A inclusão do ex-governador de Pernambuco e ex-presidente do PSB na relação de heróis e heroínas brasileiros se deveu à sua biografia, como cidadão, homem público, dirigente partidário e líder político dedicado às causas sociais e em defesa da democracia no Brasil.

Assessoria de Comunicação/PSB Nacional com informações da Agência Câmara, Diário de Pernambuco, Folha de Pernambuco, Wikipedia e FGV

Fonte: Socialismo Criativo