31 de março: A mais longa noite brasileira

31/03/2022 (Atualizado em 31/03/2022 | 12:17)

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

No início da noite de 31 de março de 1964, o general Olímpio Mourão Filho mobilizou tropas sediadas em Minas Gerais e deu ordem para dirigirem-se, fortemente armadas e municiadas, ao Rio de Janeiro com objetivo de sufocar militarmente o governo progressista de Jango Goulart.

Em todo Brasil os quartéis entram em estado de alerta e assumem posições estratégicas em todas capitais estaduais. Na manhã do dia 1º de abril, as Forças Armadas derrubam todas as prerrogativas democráticas e tomam a “manu militari” o governo federal, forçando o presidente a se exilar no Uruguai.

A partir deste momento, começa a mais longa noite brasileira, que somente viria a sentir o calor de uma manhã democrata 21 anos depois. Começa também a cassações de direitos políticos, a extinção de partidos políticos, perseguições políticas, violação de direitos democráticos, prisões de todo e qualquer opositor do novo regime, torturas, mortes e uma grande mordaça que restringiram e calaram vozes em todas as casas legislativas do país, meios de comunicação e manifestações artísticas.

Porém, desde que veio a público a chamada Operação Brother Sam, plano sigiloso conduzido pela administração do presidente norte-americano, Lyndon  Johnson, para dar respaldo militar aos golpistas de 1964, não foi mais possível disfarçar o papel de Washington para o fim da democracia brasileira do pós-guerra.

Ficou inegável que na verdade, essa longa e triste noite havia começado quase 2 anos antes, em 25 de agosto de 1962, com a renúncia do presidente Janio Quadros e a pressão dos militares brasileiros para que Goulart, que estava naquele dia em visita a China, voltasse ao Brasil e assumisse o Executivo Nacional.

O que ninguém esperava, pelo menos entre a direita brasileira, foi a força do Movimento da Legalidade, liderado pelo governador gaúcho, Leonel Brizola, que, literalmente dos porões do Palácio Piratini, conclamou as forças políticas, populares e de setores progressistas do Exército Brasileiro a resistirem a tentativa da extrema direita tupiniquim tomasse o poder.

Conseguiu!

A “Legalidade”, como ficou conhecida, mobilizou o Brasil inteiro e garantiu que Goulart  tomasse posse no dia 7 de setembro de 1961. Em Porto Alegre, foco do movimento, foi criado o “Comitê de Resistência Democrática”, que contou com a participação ativa do Partido Socialista Brasileiro, atuante na linha de frente da mobilização.

Mas a pressão dos militares fez com que o presidente João Goulart aceitasse uma mudança do sistema de governo para o parlamentarismo, em uma última cartada da direita para retirar poderes da Executiva Nacional e barrassem as reformas sociais defendidas pelo presidente e seus apoiadores.

Novamente não conseguiram.

Foi exatamente neste crepúsculo da democracia brasileira do pós-guerra que Jango e seu gabinete parlamentarista começaram a cogitar uma pauta mais a esquerda e começaram a promover reformas de base e um plano de desenvolvimento nacional.

Dentre as propostas das reformas estavam: a agrária, a bancária, a fiscal, a universitária, a urbana e a administrativa. As reformas de base também previam maior intervenção do Estado na economia nacional, a ampliação do direito do voto aos analfabetos e às baixas patentes militares, e o controle do investimento econômico estrangeiro no país.

E o PSB participou ativamente deste processo, não só com o apoio político, mas também com a participação ativa em vários ministérios, com nomes como de João Mangabeira nos ministérios de Minas e Energia e da Justiça, Hermes Lima como Primeiro-Ministro e Evandro Lins e Silva como Procurador Geral da República.

Essa mobilização pelas reformas de base desencadeou a reação de proprietários de terras, parcelas das forças armadas e dos interesses políticos estadunidenses no Brasil. Em março de 1964, os generais Artur da Costa e Silva, Castelo Branco e Cordeiro de Farias reuniram-se no Rio de Janeiro para avaliar a conjuntura e para articular medidas contra o governo de João Goulart. Em 20 de março, Castelo Branco emitia uma circular aos oficiais do estado-maior indicando que as medidas de João Goulart ameaçavam a segurança nacional.

Mas veio então, o golpe militar no dia 31 de março de 1964, e com ele o banimento, por 21 anos, do PSB da vida política no país. O partido foi cassado e passou quase duas décadas inativo. Seus membros foram perseguidos, presos, exilados e cassados politicamente. Mas, a ideia que os socialistas carregavam em suas intenções e gestos, não desapareceu.

Após sua reorganização e a volta à legalidade, em 1985, o PSB assumiu de forma ainda mais intensa a luta no poder Legislativo e a disputa para os cargos nos poderes Executivos em nível municipal, estadual e nacional. Além disso, se estruturou em todos os Estados e se organizou nos segmentos sociais mais atuantes: mulheres, jovens, sindicalismo, negritude, comunidades indígenas, LGBT`s e movimentos populares.

Nos dias de hoje, dentro da barra clara do dia, e mesmo com a democracia brasileira ameaçada novamente pela extrema direita aliada aos interesses norte-americanos no país, o PSB se tornou realmente um partido nacional, combativo, pautado em um estatuto a frente do seu tempo e que coloca na pauta da disputa política nacional a justiça social, o desenvolvimento econômico e a defesa incansável da democracia.

PSB é luta, é democracia, é justiça social e também é História!


Fonte: Ricardo Ritzel/Ascom PSB RS