"Nosso problema não é com o 13 de Maio", afirma o secretário estadual da NSB RS

13/05/2021 (Atualizado em 21/05/2021 | 10:59)

Foto: Divulgação
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Por que que quem estuda a abolição não comemora esta data? A verdade é que o nosso problema nunca foi o 13 Maio e, sim, o 14 e todos os outros dias que se seguiram. Mas como assim ganharam a tão esperada liberdade? Sim, ganhamos, mas daí ganhamos a fome, o desemprego, a segregação e a marginalidade.

Um povo sem trabalho, sem terras, analfabeto e sem direitos. Como iria sobreviver, sustentar suas famílias? Isso não foi discutido, não foi negociado. A liberdade nos trouxe mazelas terríveis, que duram até hoje. Logicamente, tivemos alguns avanços na luta por igualdade, mas ainda é muito pouco.

Faltam inúmeras políticas públicas de reparação. As cotas não são suficientes, pois ainda vivemos em um sistema feito para pessoas não negras, onde nós, os negros, temos que nos adaptar, mesmo que a todo momento esse sistema nos maltrate.

Como viver em um país que comemora a chacina do povo preto (Jacarezinho), aquele povo abandonado nas favelas e morros, refém de traficantes, onde o poder público não entra e quando entra, é para matar? Como viver em um país que elege um presidente assumidamente racista e que defende o racismo recreativo (aquela coisa de fazer piada sobre cor para fazer graça)? Como sobreviver neste país onde se executa uma mulher negra (Mariele Franco) de forma brutal porque ousou enfrentar milicianos nas comunidades? E o pior: boa parte da população acha justificativas para coisas assim.

Realmente o 13 de Maio, Dia da Abolição, não é o nosso problema. Hoje, aqueles negros e negras libertos são mais de 55% da população, a maioria nos subempregos, nas carceragens, com os maiores números de crianças fora das escolas e de desempregados. Boa parte da população negra é vulnerável, abandonada à própria sorte. Não temos representantes nos parlamentos e nos espaços de decisão.

Precisamos ainda lutar contra o racismo estrutural, institucional e individual. Tirar a população negra da invisibilidade é uma missão que poucos abraçam. Temos que buscar a equidade para alcançar a igualdade “na prática”, com projetos que realmente possam mudar a realidade deste país. Esta realidade é dura, e faz com que o nosso país viva uma instabilidade econômica e social. E mais: um país que se recusa reconhecer e reparar o prejuízo que deu ao povo negro, sequestrado da África.


Paulo Rogério Leites

Secretário estadual da Negritude Socialista Brasileira/RS.

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