CPI no rastro do dinheiro da cloroquina de Jair Bolsonaro

14/06/2021 (Atualizado em 14/06/2021 | 17:32)

Foto: Sérgio Lima/Poder360
Foto: Sérgio Lima/Poder360

A CPI da Pandemia no Senado avança nas investigações sobre a ação do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) para favorecer empresas privadas ou intermediários em transações para compra de vacinas anti-covid e de insumos da cloroquina na Índia. 

Na semana passada, o colegiado aprovou a quebra de sigilos telefônicos e telemáticos. Os senadores da comissão querem saber se houve, por parte de integrantes do governo, crimes como advocacia administrativa, tráfico de influência ou até desvio de recursos públicos.

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No rastro do dinheiro da cloroquina

De acordo com reportagem do Valor Econômico desta segunda-feira (14), a CPI da Pandemia entrou na fase de seguir o dinheiro para investigar, principalmente, as negociações na compra da vacina indiana Covaxin e no “lobby” que favoreceu produtores de cloroquina. 

Na semana passada, o jornal O Globo revelou que o presidente se envolveu pessoalmente em favor de duas empresas privadas (EMS e Apsen) ao pedir ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, que acelerasse a exportação de insumos para a fabricação de hidroxicloroquina, medicamento comprovadamente ineficaz contra a Covid-19.

O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), criticou a iniciativa do presidente da República e o comparou ao pastor estadunidense Jim Jones.

“Logo que foi descoberta sua atividade de lobista de cloroquina, o presidente muda o assunto e declara guerra à máscara. Quer o Brasil exposto ao vírus. Temos um Jim Jones na presidência. A diferença é que o louco americano induziu ao suicídio, e o brasileiro quer também o assassinato em massa.”
Renan Calheiros 

Entre as quebras de sigilo, está a de Francisco Maximiano, executivo da Precisa Medicamentos, empresa que atua como representante do laboratório indiano no Brasil. 

Mudança de comportamento sobre a vacina anti-covid

O que chamou atenção dos senadores foi a “mudança de comportamento” do governo em relação a Covaxin. Depois do contato em abril do ano passado a favor das duas empresas, no dia 8 de janeiro deste ano, Bolsonaro escreveu uma carta ao primeiro-ministro para dizer que, entre as vacinas selecionadas pelo governo brasileiro, encontram-se aquelas da empresa indiana Bharat Biotech (Covaxin).

De acordo com a matéria do Valor, no momento em que foi feito contato com a empresa indiana, o mandatário brasileiro já havia ignorado dezenas de ofertas feitas pela Pfizer e pelo Instituto Butantan (CoronaVac).

A estadunidense Pfizer, por exemplo, não havia conseguido sequer assinar um contrato com o governo brasileiro na época. Além disso, a Covaxin era a única vacina que contava com um “intermediário” na negociação direta. Dois dias antes do envio desse telegrama, a embaixada do Brasil em Nova Delhi, capital da Índia, recebeu uma “delegação” de representantes da Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC) para tratar da importação do imunizante da Bharat Biotech. 

Segundo o telegrama do Itamaraty, o sócio da Precisa, Francisco Maximiano, estava entre os integrantes do grupo. A diplomacia brasileira registra que, na conversa, ele defendeu a compra da Covaxin como forma de ‘romper o oligopólio’ formado por GSK, Pfizer e Sanofi.

No encontro revelado pelo jornal, o representante da Precisa teria mencionado “conversas” com o Ministério da Economia sobre a “eventual” abertura de crédito para que as clínicas privadas pudessem adquirir vacinas, o que nunca chegou a ser anunciado. 

“A Precisa é sócia da Global Gestão em Saúde S/A, que tem uma dívida de R$ 19,9 milhões com o Ministério da Saúde. Em 2017, a Global venceu uma licitação federal para fornecer medicamentos para doenças raras, mas nunca entregou os remédios. Por isso, a empresa é alvo de ação por parte do Ministério Público Federal (MPF), que também acionou o então titular da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR), hoje líder do governo na Câmara”, revelou a matéria.

No dia 22 de fevereiro, o governo Bolsonaro fechou contrato com a Precisa Medicamentos para o fornecimento de 20 milhões de doses da Covaxin a um custo total de R$ 1,6 bilhão.

“O acordo foi feito quatro meses antes de a Anvisa aprovar, com restrições, o pedido de importação do imunizante indiano, o que só aconteceu há poucos dias. Além disso, segundo relatório do TCU, a Covaxin teve o custo unitário mais alto entre todas as vacinas contratadas: R$ 80,70 cada.


Fonte: Socialismo Criativo / Com informações do Valor Econômico