Vai para Portugal, ora pois!

22/11/2021 (Atualizado em 06/12/2021 | 17:04)

País europeu vive um período de desenvolvimento e promoção de justiça social com a administração de socialistas democráticos

Fotos: reprodução internet
Fotos: reprodução internet

Nos últimos tempos, ser filiado ou simpatizante de um partido de esquerda no Brasil, ou simplesmente levantar qualquer pauta relacionada à justiça social, implica em já ter ouvido centenas, talvez milhares de vezes, um jargão criado pela extrema direita brasileira, hoje domiciliada no Palácio do Planalto:

-“Vai para Cuba, vai para Venezuela!”

Sim, o objetivo é, literalmente, desacreditar toda e qualquer luta por uma sociedade mais justa, igualitária, seja ela econômica, racial, sexual ou de gênero.

E também, sim, Cuba não é um exemplo de um socialismo democrático desde que adotou o comunismo soviético, logo após os barbudos de Fidel Castro derrubarem Fulgêncio Batista, um sanguinário ditador apoiado por Washington.

Mas também não havia muitas opções da revolução cubana sobreviver as constantes e cada vez mais fortes investidas armadas norte-americanas a ilha caribenha sem o apoio do Kremlin. Tanto que um dos ministros mais expoentes de Fidel, Che Guevara, que era contra a adoção do modelo autoritário russo, percebeu rapidamente a situação, pediu demissão e foi fazer a guerrilha libertária nas florestas do Gongo e, depois, no altiplano andino da Bolívia.

Morreu tentando.

E até hoje, 60 anos depois, Cuba vive sob um trágico bloqueio comercial do grande irmão do Norte, sofrendo com a falta de produtos e serviços e, sem dúvida alguma, nenhuma possibilidade de desenvolvimento econômico.

Já a Venezuela, que mesmo se autoproclamando “socialista” (assim mesmo, entre aspas, já que sem liberdade não há o verdadeiro socialismo), é o país mais semelhante com o governado e pretendido por Jair Bolsonaro desde que começou sua triste trajetória na cadeira presidencial, em Brasília: autoritarismo exagerado do presidente, sustentação política dada pelo grande número de militares no Poder, benesses de todo tipo aos legisladores que apoiam o regime, milícias armadas fazendo o trabalho sujo contra opositores do regime, desqualificação da oposição pela prisão e contínuos fake news, além de inflação galopante, falta de trabalho, miséria absoluta e fome, muita fome!

Neste sentido, da próxima vez que levantares a bandeira da justiça social e um direitista radical vier a bradar seu jargão, educadamente lhe pergunte se conheces Portugal.

Sim, esse mesmo Portugal dos grandes navegadores, de Cabral, Camões e Fernando Pessoa. Um Portugal que é um dos destinos turísticos mais procurados do mundo, com suas cidades e zonas costeiras repletas de turistas, atraídos pela história e cultura de um país milenar, pelo bom tempo, segurança, pela excelente gastronomia e pelos preços mais acessíveis do que os de outros destinos europeus.

E também, principalmente, por um Portugal que se tornou exemplo de desenvolvimento econômico ao superar com sucesso a crise econômica mundial de 2008, assim com a crise econômica causada pela pandemia de coronavírus de 2020.

“Portugal é um país que conseguiu, nos últimos anos, combinar coesão social com crescimento econômico, com um modelo de crescimento para as pequenas economias europeias, que tiveram dificuldade em equilibrar suas tradições culturais e valores políticos com as demandas de economias maiores, como Alemanha, França e Itália, com as quais compartilham (a moeda) o euro", ressaltou, Michel Moran, um prestigiado autor norte-americano em recente artigo da revista Foreign Policy.

Mas nem sempre foi assim. Em 2008, Portugal mergulhou numa grave crise econômica que o deixou à beira da falência.  O governo português, então de centro-direita, praticamente implorou por um pacote de resgate no valor de 78 bilhões de euros à União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O desembolso foi autorizado, sob a condição de que o país implantasse fortes e amargas medidas de austeridade.

Foram os anos da "troika", como são popularmente conhecidas às imposições da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu (BCE) e do FMI.

E assim foi feito: corte significativo das despesas públicas, salários de funcionários públicos e aposentados defasados, impostos em alta, desemprego e impostos crescentes. O consumo e a moral dos portugueses despencaram em uma ciranda trágica, típica dos fados, um gênero musical português que canta amores perdidos e desilusões amorosas.



Os socialistas Antonio Costa e Mario Centeno: mentores do renascimento pós troika


O ponto de ruptura com a crise, a troika e a desilusão nacional foram as eleições de 2015, quando foi formado um novo governo de centro-esquerda liderado pelo socialista António Costa, até hoje no cargo. Costa, e seu aclamado ministro da Fazenda, Mário Centeno, começaram a reverter as medidas de austeridade imposta pelo FMI e o Banco Central Europeu, mas sem descuidar, “um minuto” da responsabilidade fiscal.

O governo socialista português começou a gastar um pouco mais, como no aumento de salários, e isso teve um efeito multiplicador na economia e na arrecadação.  E a recuperação foi mais ainda perceptível em 2017, quando o PIB português cresceu 2,7%, a taxa mais elevada do país desde o início do novo milênio enquanto a taxa de desemprego caiu para níveis pré-crise.

Centeno, o ministro socialista, foi apontado como o "Ronaldo das finanças", em alusão ao atacante português Cristiano Ronaldo, pelo surpreendente desempenho da economia que, desde então, ficou conhecida como o "milagre da economia portuguesa".

Mas nem tudo é tempo bom na economia portuguesa. Como todo o mundo, ela  foi duramente atingida pela pandemia do coronavírus e o PIB despencou 8,4% em 2020, a pior recessão desde 1936, e os visitantes estrangeiros caíram 76%.

No entanto, segundo especialistas, as medidas promovidas durante os anos anteriores à pandemia permitiram a Portugal resistir melhor à crise, e o país é um dos que apresentam melhor desempenho na recuperação.

No segundo trimestre de 2021, o país liderou a retomada da zona euro e registrou a maior taxa de crescimento (4,9%) entre os Estados-membros da União Europeia, mais do que Alemanha (1,5%), Espanha (2,8%) ou Itália (2,7).

Agora, novamente aberto ao turismo e com um cenário praticamente normal, o Banco Central de Portugal espera que o país encerre o ano com um crescimento de 4,8%, enquanto a taxa de desemprego se situa em 6,7%, muito abaixo das nações vizinhas e também dependentes de turismo como Espanha (15%) e Itália (10%).



Portugal é um dos destinos turístico mais procurados do mundo na atualidade


Afinal, Portugal é realmente um exemplo para outras economias?

Claro que nem tudo é perfeito para Portugal, e a economia portuguesa ainda tem grandes desafios. Os salários ainda são muito pequenos em relação aos líderes europeus, como Alemanha, França, Inglaterra e Itália, e o preço das moradias simplesmente entrou na estratosfera, mas, pouco a pouco, com inteligência administrativa, como fazer frente as exportações chinesas com produtos de qualidade e incentivo a compra de moradias nos rincões mais escondidos do país, como nos Açores e Ilha da Madeira, além da liberação de recursos significativos para incentivo a economia criativa.

E, sim, Portugal com um governo socialista, apresentando um mix hábil de medidas políticas- fiscais e promovendo a justiça social faz sua gente levar uma vida boa e ainda fazer a economia crescer “a olhos vistos”. E muito!

Tanto que os endinheirados de todo mundo estão investindo em Portugal, transferindo seu endereço fiscal para terra de Camões. E os milionários brasileiros aderiram em massa a essa tendência. Apenas neste ano de 2021, centenas de clientes “private wealth management” dos mais diversos bancos nacionais transferiram seu novo endereço tributário para Lisboa ou Porto. E “private wealth management” é o serviço bancário destinado a indivíduos de alta renda e grande potencial de investimentos. O termo, em tradução livre, é gestão de riqueza.

Quer mais? Milhares de aposentados brasileiros estão se transferindo  cada vez mais “e de mala e cuia" para a terra natal do grupo musical Madredeus através de um acordo binacional que já tem vários anos, mas só agora atinge índices expressivos. Todos atrás de segurança física, patrimonial e econômica. E, fazendo uma comparação com o "Brasil Terra Arrasada" de Jair Bolsonaro, uma constante: “Não volto mais!”

Enfim, muitos desses que gritam o famoso jargão direitista de vai para Cuba ou Venezuela, são os mesmo que, sem saber, investem em um país de doutrina esquerdista, já que socialismo democrático é liberdade, democracia, ciência, cultura e, sim, desenvolvimento econômico. Então, vai para Portugal, ora pois!

*Com fontes e dados da BBC Internacional (ING), El País (Espanha), Foreign Policy Magazine (EUA) e Jornal do Comércio (POA).



Lisboa mantém seu patrimônio histórico cultural, mas também cresce "a olhos vistos". 



 

 

 

 

 

 

Fonte: Assessoria de Comunicação do PSB-RS