Artigo: Os dois lados de uma moeda desigual

26/11/2021 (Atualizado em 26/11/2021 | 15:09)

Texto publicado originalmente no Jornal do Comércio, em 26 de novembro de 2021

Foto: Sccopo Fotografia/Divulgação PSB RS
Foto: Sccopo Fotografia/Divulgação PSB RS

No primeiro semestre deste ano, as famílias brasileiras pagaram R$ 233,5 bilhões de juros. Valores que se tornam ainda mais impactantes na vida das pessoas quando se considera o alto desemprego, a volta da inflação descontrolada e a fome crescente, problemas agravados com a pandemia. Em um comparativo com o total da renda dos brasileiros no mesmo período, os gastos com juros chegaram a 12%.


Os dados são de um estudo da Fecomércio de São Paulo, que também apurou que este gasto representou mais de 7% do Produto Interno Bruto brasileiro do período. Os juros ocupam a segunda posição entre os itens de maior despesa dos brasileiros, ficando atrás apenas do aluguel.

O mais grave neste processo é que estes juros não são taxados por nenhum imposto. Ou seja, é ganho líquido para quem os recebe! Isto explica porque, no outro lado da moeda, os quatro maiores bancos brasileiros acumularam lucro líquido de R$ 21,3 bilhões no primeiro trimestre de 2021. A conta está claramente errada quando os ricos pagam menos impostos e ficam cada vez mais ricos e o povo fica sem comida na mesa para pagar juros.

Em uma verdadeira bola de neve, com cada vez menos renda e sem opções, as famílias e as empresas recorrem ao crédito a um custo elevadíssimo, o que retira da sociedade quase 8% do PIB para o pagamento de juros. Cabe ressaltar que dois terços da economia brasileira depende do consumo das famílias. Ou seja, sem dinheiro no bolso não há consumo e sem consumo a economia emperra.

Precisamos urgentemente de reformas que promovam o controle fiscal sobre as políticas do governo, para tirar o peso da má gestão financeira do Estado das costas da sociedade, que, além de sofrer uma carga tributária que representa 35% do PIB, ainda perde 12% da sua renda no pagamento de juros. Assim como é primordial a revisão do pagamento dos juros e serviços da dívida pública, que em 2022 irá consumir 53,4% do Orçamento da União, o que corresponde a mais de R$ 2,4 trilhões. Ou seja, mais da metade do que pagamos em impostos vai para os bancos e a especulação financeira. É necessário e urgente a auditoria sobre a dívida pública! Não podemos mais compactuar com este cenário de asfixia da capacidade do país investir em políticas públicas de desenvolvimento econômico e social, sacrificando a sociedade como um todo.

*Mário Bruck é advogado e presidente Estadual do PSB/RS

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