Redes sociais: aliadas ou inimigas da informação?

13/01/2022 (Atualizado em 13/01/2022 | 13:00)

Foto: Reprodução
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Diversas informações falsas circulam hoje em dia em celulares e computadores no Brasil e no mundo. Boa parte delas é disseminada em redes sociais e plataformas de comunicação. O cenário atual de proliferação das notícias falsas exige ações estratégicas das próprias plataformas para coibir esse tipo de prática. Com isso, várias entidades têm pressionado às redes socias para que se engajem na luta contra as fake news e tomem atitudes.

Twitter Brasil, por exemplo, tem dado mostras de não que leva a sério a gravidade das fake news que circulam pela plataforma. O Brasil está de fora de uma ferramenta contra a propagação de notícias falsas sobre vacinação que já é usada nos Estados Unidos, Coreia do Sul e Austrália há cinco meses.

No dia 5 de janeiro, os usuários do Twitter pressionaram a plataforma a fornecer instrumentos eficazes contra a disseminação de fake news. A hashtag #TwitterApoiaFakeNews chegou ao topo dos assuntos mais comentados.

O Sleeping Giants Brasil, movimento contra o financiamento do discurso de ódio e fake news que já conseguiu desmonetizar vários canais que faturavam às custas da propagação de mentiras, cobra o Twitter e chama os usuários para fazer pressão por uma atitude da plataforma.

Já nesta quarta-feira (12), uma carta aberta enviada à CEO do YouTube, Susan Wojcicki, por uma rede internacional de verificadores de fatos exige que a empresa enfrente a disseminação desenfreada de fake news em sua plataforma. O documento é assinado por mais de 80 organizações de verificação de fatos de 40 países. Os pedidos incluem a extensão de mecanismos de proteção para outros idiomas que não o inglês.

Entre as mais de 80 organizações que assinam a carta, há duas representantes brasileiras — Aos Fatos e Agência Lupa —, além de veículos de outros países da América Latina, como Argentina, Bolívia e Colômbia. Um dos parágrafos ressalta que no Brasil “a plataforma tem sido usada para amplificar o discurso de ódio contra grupos vulneráveis, atingindo dezenas de milhares de usuários. As eleições também não estão seguras”. Além do Brasil, os únicos países destacados foram os EUA, Taiwan e Filipinas. 

O grupo também quer ter uma reunião com Wojcicki para discutir as questões apontadas na carta. Assim, o YouTube inaugura o ano como bola da vez entre as plataformas digitais, substituindo o Facebook como alvo principal dos que criticam a atuação das plataformas digitais globais. 

Em nota, o YouTube pessoas afirmou que investiu em políticas e produtos em todos os países em que opera para conectar como um conteúdo qualificado, reduzir a disseminação de informação limítrofe e remover vídeos que violam as políticas” da plataforma.

De acordo com a empresa, o site mantém o “consumo de informação limítrofe recomendado significativamente abaixo de 1% de visualizações no YouTube”. “Estamos sempre lutando para melhorar e continuar a fortalecer nosso trabalho com a comunidade de checagem de fatos.”

Diferentemente da Meta, grupo do qual faz parte o Facebook, o YouTube não possui um programa definido de parcerias com agências de checagem .

Whatsapp e Telegram

Outras plataformas que se tornaram alvo fáceis da disseminação de desinformação são o WhatsApp e o Telegram. Em relação aos disparos em massa, embora o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tenha proibido a após prática de 2018 e o próprio WhatsApp vete em suas regras o envio automatizado, serviços terceirizados sendo seguidos oferecidos na internet.

Outra lacuna é diminuir como possibilidades de viralização dos aplicativos próprios, algo visto como um problema ainda maior no caso do Telegram.

Depois que a imprensa revelou nas eleições de 2018 que empresas estavam comprando pacotes de disparo de mensagens em massa contra o PT no WhatsApp, no ano seguinte o TSE proibiu a prática. O uso de envio massivo ou automatizado, porém, já era vedado pelos termos de uso do próprio WhatsApp. Tanto é que a empresa admitiu ter banido mais de 400 mil contas do Brasil naquelas data por terem violado suas regras. Os dados publicitados na CPMI das Fake News.

Quase três anos depois das alterações, o TSE julgou ações que pediam a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão com base nos casos revelados. As ações foram rejeitadas. Corregedores do TSE, contudo, negaram diversos pedidos de produção de prova e oitivas de testemunhos. Apesar do resultado, os ministros mandaram recados explícitos para 2022 durante o julgamento e firmaram entendimento de que a participação em esquema de disparo em massa de notícias falsas é passível de cassação do mandato.

Apesar da proibição do TSE e de serem vedados pelo WhatsApp, os disparos seguiram acontecendo em 2020. Não se sabe, porém, a dimensão deste uso. Basta uma rápida pesquisa na internet para encontrar diversos anúncios pacotes de viagens em massa. O WhatsApp inclusive move ações judiciais contra empresas que oferecem esse tipo de serviço.

Em 2020, o WhatsApp figura como um dos parceiros do TSE no programa de enfrentamento à desinformação e implementação de um canal de denúncia de disparo em massa exclusivo.

No contexto da parceria, 1.042 contas reportadas pelo canal de denúncia foram banidas. Ao todo, porém, o número de contas banidas foi muito maior – a empresa baniu mais de 360 ​​mil no Brasil de setembro a novembro daquele ano.

Além dos dados do período eleitoral, não há uma divulgação contínua do número de contas banidas pelo WhatsApp no ​​Brasil ou em outros países. Uma exceção é a Índia, onde, em resposta a uma nova lei, a empresa passou a publicar estes dados e revelou remoções de mais de 3 milhões de contas em períodos inferiores a dois meses.

A versão do projeto de lei das notícias falsas aprovada em grupo de trabalho da Câmara busca tornar obrigatória a publicação de dados pelas empresas.

Telegram cresce no Brasil

Apesar de o WhatsApp continuar sendo o aplicativo com maior número de usuários no Brasil, o Telegram tem aumentado sua fatia do bolo.

Em 2018, apenas 15% dos celulares no Brasil tinha o aplicativo instalado, número que aumentou para 45% atualmente. Já o WhatsApp está em praticamente todos os aparelhos no país.

Além disso, o presidente Jair Bolsonaro (PL), possível candidato a reeleição, é líder na plataforma. Em outubro, seu canal atingiu uma marca de um milhão de inscritos. Até o momento, seu principal rival, Lula, não atingiu os 50 mil seguidores. Em seus termos de serviço , o Telegram prevê que os usuários podem ter suas contas limitadas por envio de spam.

No entanto, ao contrário do WhatsApp, a empresa não diz realizar uma detecção proativa de contas de spam. Pelo contrário, o Telegram informa em seu site que a limitação de contas se dá após análise de moderadores humanos, a partir de mensagens denunciadas. O aplicativo também permite a criação de grupos de até 200 mil integrantes e facilita o uso de ferramentas automatizadas, pois permite a integração de serviços de terceiros à sua aplicação.

A empresa tampouco colabora ou responde a autoridades. De origem russa e baseado em Dubai, nos Emirados Árabes, a empresa não tem representante legal no Brasil e, de acordo com o TSE, não respondeu às ligações do órgão.

Para viabilizar a realização de disparos em massa, é preciso ter em primeiro lugar listas de contatos para o envio.

Além de usarem CPFs de idosos para registros de chips, as agências de marketing utilizavam bancos de contatos comprados, algo que já violava as regras , dado que a legislação eleitoral já proibia a compra de base de terceiros, só permitindo o uso das listas de apoiadores do próprio candidato.

Estratégias mais sofisticadas podem envolver a raspagem de dados de redes sociais, por exemplo, para o envio de conteúdos direcionados por grupos de afinidades.

Fonte: Socialismo Criativo