Olavo: guru negacionista da extrema direita morre após pegar covid

25/01/2022 (Atualizado em 25/01/2022 | 12:20)

Foto: Vivi Zanatta/Folhapress
Foto: Vivi Zanatta/Folhapress


O escritor Olavo de Carvalho morreu nessa segunda-feira (24), aos 74 anos, nos Estados Unidos, onde vivia. A informação foi divulgada pela família nas redes sociais do astrólogo. 

“Com grande pesar, a família do professor Olavo de Carvalho comunica sua morte na noite de 24 de janeiro, na região de Richmond, na Virgínia, onde se encontrava hospitalizado”, escreveu a família.

Natural de Campinas, em São Paulo, ele deixa a esposa, Roxane, oito filhos e 18 netos.

Em julho do ano passado, Olavo passou por uma cirurgia de emergência no Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo, para revisão de uma operação da bexiga que havia sido realizada nos Estados Unidos em maio de 2021.

Em agosto do mesmo ano, voltou ao InCor com insuficiência cardíaca e renal aguda e infecção sistêmica. O Ministério Público de São Paulo chegou a instaurar à época procedimento para apurar se o escritor furou a fila do SUS. Depois de receber alta na rede pública, ele internou-se novamente, na clínica Saint Marie, na Zona Sul de São Paulo, de onde recebeu alta no fim de novembro.

O escritor tinha ainda a doença de Lyme, uma infecção transmitida por carrapato que causa irritações na pele.

Em meados janeiro deste ano, ele foi diagnosticado com covid-19. Na mesma semana, cancelou aulas de um curso que ministrava de forma online. Durante a pandemia, Olavo de Carvalho fez diversas publicações com teor negacionista nas redes sociais.

Em uma dessas postagens, escreveu: “Dúvida cruel. O vírus mocoronga mata mesmo as pessoas ou só as ajuda a entrar nas estatísticas?”.

Bolsonaro lamenta a morte de Carvalho

Ignorando diariamente as mortes de brasileiros por covid-19, que já somam 624.266, o presidente Jair Bolsonaro (PL) lamentou a morte do escritor em sua conta no Twitter. Nos últimos anos, como presidente da República, o chefe do Executivo ignorou a maior parte dos óbitos de artistas e intelectuais brasileiros.

“Nos deixa hoje um dos maiores pensadores da história do país, o filósofo e professor Olavo Luiz Pimentel de Carvalho. Olavo foi gigante na luta pela liberdade e farol para milhões de brasileiros. Seu exemplo e seus ensinamentos nos marcarão para sempre”, afirmou Bolsonaro.

O escritor atuava como professor de filosofia – apesar de não ter formação na área – e ficou conhecido por apoiar e incentivar o conservadorismo político. Era considerado um guru do bolsonarismo e foi elogiado por Bolsonaro algumas vezes em suas redes sociais. Mas ele tinha desafetos na ala militar do governo.

Em 2019, uma briga entre Olavo e militares gerou uma crise no governo Bolsonaro em meio a troca de xingamentos entre os envolvidos. O presidente tratou o embate como “coisas pequenas”.

Guru do bolsonarismo

Nos últimos anos, houve um grande avanço da extrema-direita no Brasil. Em boa parte delas, a influência de Olavo de Carvalho foi mencionada por acadêmicos e pesquisadores. Segundo eles, o escritor foi um dos “arquitetos” do bolsonarismo.

Em reportagem da Agência Pública, João Cezar Castro Rocha, professor titular de literatura comparada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), disse em junho que “o sistema de crenças Olavo de Carvalho explodiu na cultura brasileira com data marcada: 2015.”

“Nas manifestações de 2015, surgiu uma frase e gritada por manifestantes: ‘Olavo tem razão!’. Você acha que essas pessoas todas leram Olavo de Carvalho? Claro que não. Mas um sistema de crenças não é contestável pela realidade, é um sistema lógico autocentrado que, quanto mais atacado, mais se fortalece. As pessoas se convencem de que Olavo está sendo atacado porque tem razão”, afirmou Castro Rocha.

Leia tambémOlavo de Carvalho foi de carro para o Paraguai para fugir da PF

Em outubro do ano passado, o professor de Filosofia do Instituto Federal da Bahia (IFBA) Tiago Medeiros, que realizou parte de seus estudos de doutorado na Universidade de Harvard, nos EUA, afirmou que Olavo ajudou a “sofisticar” o discurso de Bolsonaro para as massas.

“Associado a Olavo de Carvalho, Bolsonaro deu caráter universal a esse conservadorismo difuso, associando a necessidade de proteção da família a uma série de movimentos ‘ameaçadores’ que acontecem mundo afora: o comunismo, a China, o tráfico de drogas, os movimentos LGBT”, afirmou Medeiros.

Odilon Caldeira Neto, professor de História Contemporânea na Universidade Federal de Juiz de Fora e um dos coordenadores do Observatório da Extrema Direita Brasileira (OEDBrasil), disse em novembro do ano passado, que a relação entre Olavo e Bolsonaro existe desde uma manifestação em apoio ao então deputado após declarações ao CQC, em 2011, na Avenida Paulista, em São Paulo.

“Aquele ato no vão livre do MASP, que trouxe desde neointegralistas a neonazistas, skinheads, outros grupos da extrema direita, indivíduos com camisas em homenagens ao Olavo de Carvalho, foram fundamentais para a extrema direita, há dez anos atrás, reconhecer que Bolsonaro era o seu grande representante”, disse.

Fonte: Socialismo Criativo