Artigo: O uso espúrio da fé, por Milton Coelho

05/04/2022 (Atualizado em 05/04/2022 | 10:48)

Foto: Divulgação
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Os jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo trouxeram ao conhecimento público mais um escândalo do governo Bolsonaro: o Ministério da Educação, sob comando de Milton Ribeiro, apresenta claros indícios de negociatas inconstitucionais executadas com o uso de pessoas sem nenhum tipo de vínculo com a Administração Pública. Conforme pedido feito pelo próprio Presidente da República, o Ministro da Educação deveria priorizar o atendimento dos “amigos do pastor Gilmar” – Gilmar Santos, um dos líderes da Assembleia de Deus. Junto a Santos, trabalha o também pastor Arilton Moura, acusado pelo prefeito Gilberto Braga (PSDB), do município de Luis Domingues (MA), de pedir um quilo de ouro em troca da liberação de verbas educacionais para a cidade. Nessas denúncias, o conjunto de indícios de crimes é amplo, abrangendo desde o tráfico de influência à corrupção ativa e passiva.

Sabemos que impessoalidade e moralidade são princípios da Administração Pública previstos no texto constitucional; que as verbas públicas devem ser liberadas conforme critérios objetivos e sem cobranças de vantagens; e que o Estado brasileiro é laico, ou seja, respeita a fé de todas as pessoas, mas separa as manifestações de fé, objeto da vida privada, das regras que regem a vida pública. Tendo em vista a gravidade dos fatos, subscrevi requerimento efetuado pelo Deputado Prof. Israel Batista, presidente da Frente em Defesa do Serviço Público, com o objetivo de instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar os crimes cometidos pelo Ministério da Educação sob a ordem explícita de Bolsonaro.

As denúncias contra o MEC são mais uma prova da atuação de Bolsonaro como um usurpador da fé para fins espúrios. Lembremos o que ele sublinhou diversas vezes na indicação de André Mendonça para o STF: “indicarei um ministro terrivelmente evangélico”. Se esquece o presidente de que evangélicos não são terríveis. Terríveis são somente os ditos evangélicos que desvirtuam o interesse público sob a falsa justificativa da fé.

Evangélicos e evangélicas das diversas denominações são pessoas dignas de respeito em sua crença e em sua cidadania. São cidadãs e cidadãos profundamente descontentes por assistir a um governo fazer uso indevido da fé para justificar ações antirrepublicanas e anticristãs, que englobam o estímulo à intolerância e à violência. Prova disso está na última pesquisa feita pela BTG/Pactual, indicando que 63% dos evangélicos não votariam em Bolsonaro.

Se há algo hoje convergente neste País é a percepção de que Bolsonaro representa a profunda desumanização da política e a violação de nossos direitos fundamentais. E, por isso, independentemente de nossas crenças de caráter religioso, precisamos de união para tirá-lo do poder e festejar a volta de nossa fé na democracia brasileira.

Autor: Milton Coelho
Deputado federal (PSB-PE)

Fonte: PSB nacional