Confira experiências socialistas de Portugal e Espanha

04/12/2019 (Atualizado em 04/12/2019 | 18:30)

As experiências internacionais para enfrentar crises políticas, econômicas e sociais foram abordadas na Conferência Nacional da Autorreforma do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Diante dos inúmeros obstáculos enfrentados pelos socialistas ao redor do mundo, o PSB avalia que é fundamente        conhecer o que os partidos de esquerda estão realizando em seus países e trocar experiências que fortaleçam a democracia e qualifiquem os sistemas políticos. Para este debate, foram convidados os deputados socialistas Hugo Alexandre Pires e João Paulo Moreira Correia, de Portugal, e Olga Alonso Suárez, da Espanha.

O deputado federal Alessandro Molon (RJ) leu nota de repúdio sobre o cancelamento da assinatura da Folha de S. Paulo pelo governo de Jair Bolsonaro, em mais uma medida descabida em tempos de democracia. A nota, inclusive, encontrou respaldo de Hugo Pires: “Precisamos tomar cuidado com a democracia. Quem derruba democracias hoje são os eleitos por ela”. Olga Alonso também apresentou preocupação com o regime democrático espanhol.

Olga Alonso

De acordo com ela, “aqui, temos todos as mesmas inquietações e vontades, sobretudo em melhorar a vida dos cidadãos de nossos países. A Espanha precisa mudar suas leis de regime geral de eleições. O bipartidarismo acabou. O diálogo não pode ser uma questão mercadológica de cargos no governo”.

Olga falou também sobre a difícil situação política espanhola, que enfrentou diversas eleições nos últimos sete anos. Ela também apresentou sua preocupação com o crescimento da extrema-direita e do fascismo nas camadas mais populares da Espanha, insatisfeitas com a ascensão da esquerda ao poder.

A deputada alertou para o crescimento de um discurso xenófobo e de ataque às mulheres e minorias. Citou a situação em Madrid, cujo governador é apoiado pelo Vox, partido com duro discurso contra imigração, movimentos LGBT e feminismo. Olga lembrou que, em 25 de novembro, Dia Internacional contra Violência de Gênero, muitos deputados da extrema-direita fizeram declarações que minimizam o movimento. Em alguns congressos, deputados não puderam ler suas notas de repúdio.

 “A situação na Catalunha é complicada. Precisamos governar para o povo. Porque neste momento a Espanha não pode permitir outra coisa. Eu agradeço pelo convite. E digo: pela Espanha, lutaremos. Nós vamos continuar lutando. Por que eu entrei no congresso? Se eu perdi a ilusão? É muito difícil, mas eu sou política, uma mulher política, professora e sindicalisma, e quero lutar pelas melhoras do PSOE. É por isso que estou aqui: precisamos aprender uns com os outros”.

João Paulo Moreira

João Paulo Moreira Correia fez duas importantes considerações: “nosso governo não é presidencialista. Ele é semi-presidencialista, então temos um primeiro ministro que rege o nosso parlamento. Ademais, Portugal integra com a Espanha um espaço chamado união européia. Por isso, integramos um espaço econômico distinto ao encontrado no Brasil.”

O parlamentar, em sua fala, fez breve retrospectiva histórica dos últimos anos em Portugal, principalmente a respeito da crise econômica do século. Ele lembrou que até 2015 a situação estava muito difícil para o povo português. “Portugal tinha desemprego de 14%. Os bancos estavam para falir”. Ele comentou que a direita impôs dura austeridade até 2015, “quando então foram rejeitados nas eleições”. Quando a esquerda assumiu o país, “havia muitas diferenças entre os partidos progressistas”. “Sempre que existe um projeto de lei que reforça a influência da UE em Portugal, há muita discussão na esquerda portuguesa”, afirmou.

Entre as medidas (de direita) que precisaram ser revistas pelo Partido Socialista Português quando assumiu o país, o deputado destacou que o “governo de direita achava que quanto mais baixos os salários, mais competitiva seria nossa economia. Eles queriam a redução do déficit, e então aumentaram os impostos. Aumentaram para os mais pobres e a classe media, os trabalhadores. O que aconteceu foi que o desemprego aumentou, e aqueles que tinham emprego, perderam poder de compra. Os cortes nas pensões também ajudaram a quebrar o país. Isso era um direito construído ao longo de décadas. Um direito do trabalhador português”.

“Cortaram também gastos na saúde, nos serviços públicos, como estradas e linhas ferroviárias. Mas o pior deste movimento foram as privatizações. Há áreas em que o Estado assume e não precisam ser lucrativas”, disse João Paulo Moreira Correia. “Nós, congressistas, salvamos o transporte público em Portugal. Isso foi fundamental para provar que o Estado pode gerir serviços melhor do que a iniciativa privada.

Entre medidas que serviram para recuperar o país, o socialista destacou o aumento do salário mínimo, que até fim do mandato do partido crescerá em 58%, e a geração de emprego públicos. Com a chegada de mais postos de trabalho, a economia voltar a ficar aquecida. Ele também rejeitou a ideia de que um governo socialista desestimula investimentos estrangeiros. De acordo com João Paulo Moreira Correia, “os investimentos nunca estiveram tão altos”.

Com efeito, ele destacou que, em quatro anos, 200 mil pessoas foram retiradas da pobreza. “Criamos políticas para deficientes, aumentamos os planos odontológicos para as famílias e aumentamos as aposentadorias”.

Para o português, “o crescimento econômico só vale a pena se for canalizado para combater as desigualdades sociais. É preferível ver um país crescer menos e combatendo a pobreza do que crescer muito e aumentarem os miseráveis. Esse é o compromisso e o desafio do Partido Socialista Português”.

Hugo Pires

Hugo Pires começou sua fala demonstrando preocupação com a democracia. Para ele, nenhum país no mundo está isento. Neste sentido, afirmou depositar “grande esperança no PSB, porque não há democracia sem partidos fortes. Se olharmos para esquerda brasileira, não está tão forte. E, sim, estou falando do PT. O PSB tem uma grande oportunidade, que é dar esperança ao povo brasileiro e à esquerda democrática do Brasil”.

Segundo ele, “existe esse declínio dos partidos tradicionais no mundo, pois foram incapazes de resolver problemas das pessoas. Durante muitos anos, poucos conseguiram dar respostas aos anseios e às necessidades da população”. Para o deputado, “esse é o nosso grande desafio, defender o estado de bem-estar social para todos. Educação, Saúde e Seguridade social para todos”. O português fez um apelo aos brasileiros: “não podemos tratar os adversários como inimigos. Que nós, socialistas, tenhamos a capacidade para fazer essa política social que tanto falamos com as contas equilibradas”.

Molon leu moção levada até à mesa sobre o crime ambiental no nordeste e a ausência de esforços por parte do governo federal. Enalteceu a CPI do óleo e o trabalho de João Campos, de Pernambuco. A CPI tem por objetivo encontrar a origem do óleo, assim como avaliar o trabalho dos órgãos responsáveis pela limpeza nas praias nordestinas.

Fonte: Comunicação/PSB Nacional