Luz após o túnel
A economia é um sistema dinâmico, e sua reinterpretação com base na realidade é o melhor norte a seguir
Já passou mais de um mês desde o
momento que nossas vidas foram surpreendidas pela chegada da COVID-19. Foram
várias etapas: surpresa, negação e compreensão. Agora, creio ser possível já
entrarmos em outra seara, a que julgo mais interessante: a da projeção. Acho
absolutamente estranho ver tanta gente séria apenas esperando a pandemia
passar, como se apenas tivéssemos dado uma pausa no filme, e bastariam alguns
dias para que já fosse possível recomeçar de onde paramos. Perdão por jogar
água no neste chopp, não será por aí.
Saúde e economia deram-se as mãos, e
deverão andar unidas por algum tempo. A interrupção da quarentena não elimina o
risco de ali na frente termos que retomá-la. A atividade econômica e a nossa
vida social tendem a viver de intermitências. Assim como os profissionais da
saúde precisarão, doravante, reforçar o uso dos Equipamentos de Proteção
Individual, a nova realidade econômica nos fará ampliar o uso Equipamentos de
Proteção Social, ambos fundamentais para manutenção do bem mais precioso que
temos: a vida.
É preciso sair da antiga pauta fiscal
e avançar em nossas urgências. Devemos instrumentalizar os bancos públicos para
distribuírem crédito às pequenas empresas, tal como faz o BPI (Banque Publique
d'Investissemen), na França, e o KFW na Alemanha. Propor uma reforma tributária
que não onere produção e consumo e passe a onerar renda e patrimônio. E ainda
terminar de vez com os super salários na área pública e propor uma
reorganização da indústria nacional como oportunidade da substituição do
vórtice produtivo com base na china, que se fragiliza como tese global.
Garantia de renda mínima e busca de pleno emprego devem estar na agenda.
Há um silêncio ruidoso nas áreas
econômicas dos governos. Assim como parte da população vive a ilusão de retomar
de onde parou, alguns governos parecem estar aguardando para dar um “re-start”
na agenda econômica paralisada. Ledo engano. Alguns pontos da pauta fiscal
ficarão guardados e só poderão ser retomados num futuro incerto. A realidade
mudou, e não é a ideologia de um governo que irá lhe transformar. Acabou a
época do corte de juros e da pauta meramente fiscal. Abram os olhos. A economia
é um sistema dinâmico, e sua reinterpretação com base na realidade é o melhor
norte a seguir.
Jefferson Allan Müller, advogado e sociólogo, é membro da Executiva Estadual do PSB e chefe de gabinete do deputado estadual Dalciso Oliveira
Fonte: Comunicação