Artigo: Uma esquerda além do PT, por Domingos Leonelli

28/05/2021 (Atualizado em 28/05/2021 | 17:10)

Divulgação PSB Nacional
Divulgação PSB Nacional


O programa do Partido Socialista Brasileiro está sendo reelaborado com novos conceitos sobre o socialismo democrático, novas ideias para um projeto nacional de desenvolvimento baseado na economia criativa inclusive para a floresta amazônica, ideias radicais para o combate às desigualdades como o ensino fundamental exclusivamente gratuito, o renascimento criativo da indústria e a reforma do Estado. Acredito que esse processo de autorreforma poderia se constituir no amálgama de uma nova formação partidária da esquerda.

As teses da autorreforma além de sentido autocritico ousa mexer num tema tabu para a esquerda que é a definição do socialismo desejado, a partir da novos paradigmas econômicos resultantes da revolução tecnológica, da chamada era do conhecimento.

Surfando nas ondas do “socialismo de mercado” chines e vietnamita que incorporou a iniciativa privada, nas experiencias sociais-democratas do chamado “socialismo nórdico” e nas experiências exitosas de governos socialistas como os da Espanha e Portugal, os socialistas brasileiros propõem o Socialismo Criativo como uma atualização do seu ainda válido conceito de socialismo democrático. Segundo a tese 508 da Autorreforma, “o Socialismo Criativo corresponde às profundas mudanças disruptivas ocorridas no desenvolvimento das forças produtivas a partir da revolução tecnológica que acelerou radicalmente os ciclos de inovação”.

Mas o socialismo criativo não é apenas um objetivo de longo prazo que de acordo com a proposta do novo manifesto resultaria num “Brasil socialista e profundamente democrático”. Deverá se constituir, também, numa visão dos socialistas para a construção de um Projeto Nacional de Desenvolvimento desde já, ainda no capitalismo.

O Socialismo Criativo representará a dimensão humana da revolução tecnológica e um olhar crítico da Economia Criativa, que embora sendo o eixo central do desenvolvimento, também gera novas desigualdades sociais.

É com essa perspectiva que o PSB trabalhou ao longo dois últimos anos consultando especialistas escrevendo e reescrevendo suas teses como a Amazônia 4.0, a economia criativa como eixo central de desenvolvimento, a revolução criativa na educação, as cidades criativas, a economia verde, renda básica universal, a reforma tributária com taxação dos ganhos de capital, os empregos verdes, o novo federalismo e a transformação do Brasil numa Potência Criativa e Sustentável. Incorporando, sempre, os recortes de raça, gênero, juventude, diversidade e cultura a essas teses.
Tudo, porém, está em discussão até o XV Congresso do PSB em dezembro de 2021 que bem que poderia ser um congresso da maioria dos socialistas brasileiros.

Assim, o PSB se propõe a discutir o seu novo programa com outras forças de esquerda para além de sua própria militância, como já vem realizando em suas lives da Autorreforma e da Revolução Brasileira no Século XXI. Está acenando, na verdade, para as lideranças progressistas independentes e até para outros partidos considerados irmãos dos socialistas. Este aceno pode coincidir com fatores mais políticos e eleitorais decorrentes do fim das coligações proporcionais nas eleições para a Câmara Federal e Assembleias Legislativas estaduais de 2022.

Considero, pessoalmente, que a existência de uma formação socialista, moderna, criativa, muito brasileira e também muito latino-americana, será um fator extremamente positivo para a democracia a brasileira. Uma força modernamente revolucionária que agregasse a longa e rica experiencia democrática e revolucionária do PCdoB, o nacionalismo desenvolvimentista do PDT, a magnífica herança de cultura politica do PCB e de outros grupos e personalidades independentes de esquerda, faria muito bem ao próprio PT que já se constituiu numa poderosa referência da vida política no Brasil
Uma esquerda, não contra e nem em oposição, mas independente do PT. Dois grandes partidos de esquerda concorreriam para o fortalecimento do campo progressista na democracia e para o avanço da Revolução Brasileira no século XXI.


*Autor: Domingos Leonelli
Ex-deputado federal, atualmente presidente do Instituto Pensar e coordenador do portal Socialismo Criativo

Fonte: Socialismo Criativo / PSB Nacional