“Esse ouro tem sangue Yanomami”, diz líder indígena sobre garimpo ilegal

14/04/2022 (Atualizado em 14/04/2022 | 13:07)


Em entrevista à Rádio França Internacional (RFI), o líder indígena e diretor da Hutukara Associação YanomamiMaurício Ye’kwana, disse que comunidades indígenas vivem uma rotina de terror com estupros, mortes e fome devido ao avanço de garimpos ilegais em suas terras.

O líder indígena disse que há “muito medo devido à violência, à perda de nossos jovens que estão sendo aliciados. Em alguns locais há essa violência contra as mulheres, essa questão de relação sexual com nossas meninas. Em troca de comida, de um fardo de arroz, garimpeiros pressionam por casamento, por dormir com as mulheres yanomami”.

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Desde o dia 04 de abril mais de 7 mil indígenas de todo o Brasil estão acampados em Brasília no Acampamento Terra Livre (ATL) e um dos principais apelos do movimento indígena nestes dias de mobilização é que o mundo pare de comprar ouro de garimpos ilegais do Brasil.

A presença de garimpeiros em territórios indígenas brasileiros é de conhecimento de todos e tem até mesmo o apoio do atual presidente da República, Jair Bolsonaro (PL).

Ye’kwana disse que a situação piorou muito nos últimos cinco anos. “Com essa atuação do presidente Bolsonaro, que diz que vai autorizar mineração e garimpo dentro das terras indígenas, isso tem motivado muito essas pessoas, grandes empresários”.

Estupros, assassinatos, aliciamentos e agressões

Um relatório da Hutukara Associação Yanomami mostra casos de estupros, assassinatos, aliciamento, agressões, além de todo dano ao meio ambiente.

Os detalhes das denúncias são chocantes, como a denúncia de que um garimpeiro que trabalhara no rio Apiaú ofereceu drogas e bebidas aos indígenas e depois, com os adultos inertes, estuprou uma criança.

Além de relatos de garimpeiros que exigem sexo de adolescentes indígenas em troca de comida e forçam casamento com mulheres da comunidade em troca de envio de alimentos.

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Pesquisadores e antropólogos estiveram na região polo-base Kayanaú e entrevistaram indígenas que relataram a morte de três crianças e adolescentes entre 10 e 13 anos que morreram depois de sofrerem abusos de garimpeiros.

A reportagem destaca que o garimpo cria vulnerabilidades para os povos indígenas ao destruir a base alimentar das comunidades. Para o ativista e sócio fundador do Instituto Socioambiental, Márcio Santilli, a situação é extremamente grave e rios inteiros estão sendo completamente destruídos.

“Essas invasões cresceram mais de 300% nesses primeiros três anos do governo Bolsonaro. O mercúrio contamina a água, os peixes e as pessoas, comprometendo a base alimentar desses povos”, disse à RFI.

O Ministério Público Federal (MPF), na cidade de Boa Vista, em Roraima, entrou com ação na justiça para exigir providências urgentes ao governo federal na proteção dos índios.

Fonte: Socialismo Criativo